Fleabag é a construção da mulher milenar com muito humor, conflitos e drama
27 Janeiro, 2020Fleabag é uma premiada série de televisão britânica e transmitida também pelo serviço de streaming Amazon Prime, e é criada por Phoebe Waller-Bridge, um dos nomes do momento e a personagem principal da série. Estrelada também por Sian Clifford e a vencedora do oscar, Olivia Colman, a série é particularmente conhecida por quebrar a quarta parede.
“Tenho uma sensação horrível de que sou uma mulher gananciosa, pervertida, egoísta, apática, cínica, depravada, de aparência masculina e moralmente falida, que nem consegue se chamar feminista” Fleabag, Amazon Prime.
Essa frase é uma definição dada pela personagem sobre si mesma. O espectador é exposto a mensagens contraditórias sobre os papéis das mulheres na sociedade, muito sexo, empoderamento e uma sensação de libertação. Todas essa relações interpessoais são tópicos importantes e muito bem abordados por ela. Passamos por uma montanha russa de emoções junto com a personagem. Tudo pode parecer muito engraçado e ao mesmo tempo tudo muito trágico, combinado com uma imagem autodepreciativa da personagem e também com sua inteligência e rapidez de resposta. Por muitas vezes, Fleabag viaja no seu espaço um pouco egoísta e às vezes até insensível no ponto de vista de alguns. Sendo um ponto importante de séries como essa, que tentam desconstruir a visão patriarcal de que todas as mulheres são doces, sensíveis e adoráveis.
A morte da sua melhor amiga ainda a assombra por muito tempo, na qual ela se sente culpada pelo acidente. Ela vai largando amores por onde passa, as vezes tendo que lidar com alguns deles, como um vai e volta infinito com seu ex sensível. Até por fim se apaixonar num padre pra lá de diferente da visão convencional que temos sobre eles. Ainda temos todos os conflitos familiares que perseguem a personagem ao longo dos episódios; a morte da sua mãe e o seu pai se casando com sua madrinha. Sim, ela é obcecada por sexo e se sente constatemente isolada de sua família. E muitas vezes questiona essa própria vivência dela e brinca com suas escolhas. A intensa e complexa relação vivida com sua irmã, Claire, mesmo que praticamente incompatíveis em todos os aspectos, as duas nos dão uma breve definição de como é amar.
Fleabag nos leva a um passeio na jornada de luto, novas conquistas e nos faz questionar sobre conversas difíceis, que muitas vezes é difícil de ter com outras pessoas. Uma maneira criativa de colocar para fora, ou cientificamente falando, externalizar esses problemas internos e percebemos de forma clara quando o humor de um modo mais sombrio tenta cobrir alguém tendo que enfrentar algumas perdas e problemas. E quando ela demonstra ao público que não tem muitas pessoas para conversar, nos tornamos um personagem em sua história. Ela não está fundamentada em um casamento, não tem filhos, ela é uma pessoa livre. Oposto de tudo que a sociedade e até mesmo sua família estava esperando.
Assim a personagem compartilha sua paixão e confiança pelo padre, ao qual de imediato tem uma grande química por se identificarem como duas pessoas sozinhas, com poucos amigos e problemas familiares. Ela descobre que existe alguém na qual pode compartilhar dos mesmos problemas, e ao se sentir pronta para compartilhar, também descobre que pode apegar-se e aos poucos ele vira a “pessoa”. A série no entanto que começou nos fazendo rir, chega ao seu estado mais aberto, honesto e vulnerável. Essa mistura acentuada de comédia e dor, ajudou a virar esse sucesso que é a série hoje e talvez a vontade da autora de não continuá-la é para que cada um imagine a sua maneira como pode ser dali pra frente a sua maneira. Phoebe Waller-Bridge cria uma série intrigante e emocionalmente complexa e assim ela nos convida para o seu mundo emocional caótico, talvez te fazer sentir um pouco como ela.
Sou cinéfila e meu filme favorito é indie e pouco conhecido, ele se chama Barbie Fairytopia.