Dor e Glória: o filme mais poético e pessoal do Almodóvar
23 Janeiro, 2020Em 2019, Almodóvar volta aos holofotes dos festivais com seu mais novo longa “Dor e Glória” onde, com uma quase cinebiografia do próprio, ele retrata a vida de um diretor de cinema em processo de “aposentadoria” e conflito pessoal.
O nome do filme já é visto da forma mais literal, Dor: pela sua dor diante de algumas –muitas– doenças que o rodeou durante sua vida, e Glória: diante de toda sua carreira gloriosa como cineasta.
Almodóvar poderia ter ficado na mesmice de cinebiografias, mas optou por algo indireto que lembrasse sua trajetória, aqui não temos um Pedro Almodóvar e sim um Salvador Mallo mas, não pense que isso distancia o autor da obra, muito pelo contrário a deixou mais interessante.
Da forma mais poética e sincera, Dor e Glória, segue com um enredo bonito, lírico, pessoal e cativo, o filme te entrega aos poucos as nuances de uma uma carreira bem-sucedida e uma vida complicada até com questões mais diretas como a fragilidade humana em relação ao próprio corpo e até mesmo a sexualidade. Com alternâncias do passado e presente você fica cada vez mais inserido na história e no personagem.
Talvez esse seja o ponto alto do filme, afinal ele foge até mesmo dos outros longas do diretor, conflitos e relações pessoais são postas a cada segundo na tela e não é picuinha de roteiro, mas consequências de suas próprias ações e escolhas.
Dor e Glória não segue uma linha o que dificulta no início, mas não é algo que incomode por mais que cause estranheza à primeira vista. Os diálogos são bem construídos e aplicados, a sensação de estranheza e fragilidade do protagonista fica evidente de forma clara. A direção é o “jeito Almodóvar” de ser, e eu estaria mentindo se falasse que é ruim ou batido, afinal é uma característica do diretor cores fortes com um contraste quase que perfeito.
Outro aspecto que fez desse filme tão grandioso são as atuações, com destaque para Penélope Cruz no papel da versão jovem da mãe de Salvador, Jacinta Mallo, um belo suporte para o personagem principal nas alternâncias ao passado, e claro, Antonio Bandeiras que encarna o personagem principal com uma presença quase que perfeita do diretor –inclusive no corte de cabelo– ponto alto uma vez que a história o segue o tempo todo com enquadramento diretos que captam todas as expressões do ator, trabalho bem feito que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator.
Explicar Dor e Gloria é algo difícil, afinal é um filme de experiência própria e conclusão pessoal, mas garanto que agrada o grande público principalmente aos já fãs do diretor e de sua história pois fica evidente o cuidado em produzir o longa e entregar algo com tamanha qualidade e pessoalidade!
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.