Crítica | Euphoria: Série é um retrato da geração atual e precisamos lidar com isso
1 Setembro, 2019Euphoria é mais uma série problemática da HBO, em seu episódio de estreia já deu o que falar, até petição de pais de adolescentes pedindo para não passarem mais a série teve! Mas o por quê de tudo isso?
Euphoria é uma série que conta, sob o olhar da Rue (Zendaya, que aliás está incrível no papel), a vida de alguns adolescentes do ensino médio e como cada um lida com diversos problemas em suas vidas. Rue é uma adolescente com alguns transtornos psicológicos, dentre eles a ansiedade, e para lidar com esses transtornos ela recorre as drogas e acaba tendo uma overdose. A série já começa abordando essa temática, a pós overdose da Rue e como ela tenta ficar sóbria, como a família lida com isso, e como ela mesma tenta, de forma frustrada, se livrar do vício.
Além de problemas com drogas a série também trata de vários assuntos importantíssimos, que acabam sendo polêmicos. Assuntos como abuso sexual, a propagação dos chamados nudes, relacionamento abusivo, gordofobia, empoderamento feminino, dentre outros.
Cada episódio a Rue conta um pouco da história de cada personagem, lembrando que é sob a visão dela, sobre o que contaram para ela, do que ela ouviu falar e também do que ela viu, isso fica bem evidente, e também gera dúvidas sobre o que ela contou, se é verdade ou não.
A questão mais polêmica da série e o que mais gerou assunto foi a questão da nudez ser explícita, mas não a nudez como estamos acostumados (seios e bundas de mulheres), em Euphoria, talvez pela primeira vez na televisão, tivemos a nudez masculina explícita, um fã chegou a contar 30 pênis em um só episódio. O que nos leva a reflexão, até então a nudez feminina é “normal”, em muitos filmes estamos acostumados a ver mulheres praticamente nuas, seios explícitos, bundas a toda tela, por que quando colocamos a nudez masculina de forma natural em uma série gerou tanta polêmica? Fica aí o questionamento.
Um ponto super positivo em Euphoria é como a série aborda temas pesados de forma que não fique problemático, como, por exemplo, relacionamento abusivo, a série soube exatamente tratar do assunto e mostrar, de fato, como acontece, os estágios que o relacionamento vai passando e como o abusador tem domínio sobre o abusado.
Outro tema tratado com bastante responsabilidade foi a transexualidade, na série temos uma mulher trans, Jules, e que é interpretada por Hunter Schafer. A série trouxe muita representatividade com um episódio inteiro para nos contar a infância da Jules e como foi e como está sendo a sua jornada.
Mas, além do roteiro sensacional, a série ainda conta com uma direção fantástica. A fotografia da série é muito linda, tudo muito colorido e com uma filmagem de tirar o fôlego.
Falando em filmagem e direção tem uma cena que me tirou o fôlego, literalmente. É uma cena em que a Rue está numa festa e ela vai ao banheiro e usa drogas, quando ela sai tudo está girando, literalmente, girando, e ela começa a andar nas paredes, no teto. A cena foi gravada em um corredor giratório construído especialmente para essa cena. Sim, o corredor gira e a Zendaya está ali acompanhando ele girar, os objetos na parede, a iluminação, inclusive os atores estão grudados, presos, e somente a Zendaya está livre e a medida que o corredor vai girando ela vai acompanhando, agora imagina o trabalho para filmar isso? E o resultado foi incrível. Inspirada na mesma técnica que foi usada em “A Origem”.
Outra cena espetacular é quando a Jules e o Nate (Jacob Elorde) estão se conhecendo, a Jules ainda não sabe que o Nate é o garoto com quem ela conversa por mensagem, mas a cena começa com a Rue no banheiro e puxa do corredor da escola até parar exatamente na Jules e no Nate, detalhe que a tela está dividida, metade na Jules e metade no Nate e, a partir daí, temos uma sequência focada somente nos dois desse jeito, com a tela dividida, e vai mostrando o dia a dia dos dois, as mensagens trocadas e o que eles estavam fazendo quando mandaram essa mensagem, tudo com a tela dividida nos dois, e tudo milimetricamente coordenado, perfeitamente colocado para terminar com os dois na sala de aula juntos. Perfeito!
E claro que eu não poderia deixar de falar dos planos sequência da série, que inclusive tem vários, imagino até que eles criaram vários cenários juntos que vão da escola para a casa, para o quarto e claro, junto com a edição deu um resultado maravilhoso. Eu sou completamente apaixonada em plano sequência, acho que é uma das coisas mais difíceis de filmar porque o câmera tem que ter total controle do que ele está filmando, onde focar e o diretor tem que saber organizar a galera toda no cenário para que todo mundo esteja bem posicionado, e tem uma cena no parque de diversões em que isso funcionou muito bem.
Seguindo sua temática adolescente, mesmo que fuja do padrão comum, a trilha sonora de Euphoria surpreende positivamente e não fica para trás na produção da serie. Todas as musicas são minuciosamente colocadas para que combine perfeitamente com a cena e seu contexto. Conta desde clássicos como “Lucky Star” da Madonna a atuais, como “you should see me in a crown” da novata Billie Eilish.
A série consegue explorar vários gêneros musicais de forma que cada musica se encaixe com cada particularidade da cena e do personagem, fazendo com que se torne memorável aos ouvidos e olhos de quem está assistindo. Seguindo essa linha de quantidade de estilos é importante salientar a presença de artistas como: Lizzo, BTS, Rosalia, A$AP, J Balvin, Beyoncé entre outros, com um destaque especial para Labrinth presente na música tema da série e em “All For Us” regravada com a participação da Zendaya para uma cena especifica da série. Euphoria tem na produção os rappers Drake e Future, dois nomes de peso na música.
A mistura de elementos fez com que Euphoria se tornasse uma das melhores séries da atualidade, com atuações incríveis e tratando de temas importantes com seriedade, tendo uma direção de fotografia incrível, uma direção espetacularmente casada com a fotografia, uma trilha sonora linda e uma produção que foi totalmente ousada e acertou em cheio.
Uma jovem estudante de Direito e apaixonada pelo Superman. Sou apaixonada também por quadrinhos e super-heróis porque vejo neles uma forma de mudar o mundo, nem que seja só um pouquinho. Tento passar esse sentimento pelos meus textos, espero que gostem!
A questao sobre a nudez é como vc disse feminino nem sempre é explícita, já nessa série foi exagerada para o masculino, mas quem quiser assisitir que assista kkkkk