‘Ms. Marvel’ é uma série genial, mas com acertos que não anulam seus erros
13 Julho, 2022Chegamos ao fim de mais uma série da Marvel Studios sobre uma das personagens novas da editora, a mais querida e mais popular entre os jovens: Kamala Khan.
Aqui vamos deixar nossos pontos positivos e negativos que envolveram a série ao longo dos seus seis episódios.
Nos quadrinhos, Kamala Khan é filha de pais paquistaneses que se mudaram de Karachi, no Paquistão, para viver em Jersey City, nos Estados Unidos. Criada pela Marvel Comics em 2013 e tendo sua primeira HQ solo em 2014, a personagem conquista o público pela sua personalidade carismática e marca também pela representatividade, ela é a primeira personagem muçulmana da editora. Além de agora ser interpretada pela atriz também paquistanesa, Iman Vellani.
Ao fugir de casa por uma noite e ser atingida pela “Névoa Terrígena” em Nova Jersey, Kamala teve seus poderes e sua origem de Inumana despertados. É aqui que suas origens se distanciam com a série, pois apesar das semelhanças, não tem nada a ver com a névoa e sim com seu bracelete e seu antepassado. Assim como nos quadrinhos e na série, ela é uma super nerd que é apaixonada por super-heróis, em especial os Vingadores que são sua maior referência. Nos quadrinhos chega a adotar o próprio manto da Miss Marvel, deixado por Carol Danvers, heroína a qual ela se inspira e é fã.
De longe Ms. Marvel é uma das melhores produções e mais originais que a Marvel Studios trouxe depois de Wandavision. Isso porque outras histórias apenas continuaram a partir de momentos da fase 3 do MCU que ficaram em abertos, enquanto Ms. Marvel foca em apresentar um novo personagem ao público, onde a única ligação com o passado são os eventos em que os personagens homenageiam e claro, trata os Vingadores como os heróis que saíram vitoriosos (alguns mortos) da grande batalha final com o Thanos. Mas assim como nem tudo são flores, temos que lidar com os espinhos, que nesse caso parte do próprio estúdio e suas escolhas de cunho duvidosos.
PONTOS POSITIVOS
É uma série com pegada mais ‘teen’ e intencionalmente criada para que adolescentes e jovens se identifiquem com a linguagem. Com bastante cuidado ao introduzir uma nova cultura, todos os personagens da série são totalmente cativantes. A escolha de mudança dos poderes da personagem, em partes, foi bem aceitável também. Divertida em um ponto bastante gostoso de assistir, o humor da personagem se adequou muito bem a proposta que já vemos no MCU sem ser cansativo ou desnecessário.
Os visuais são impecáveis. Kamala é uma personagem de fácil identificação, principalmente por ser uma grande fangirl de super-heróis, comentar e debater pontos que gostamos e não gostamos das suas histórias, além de viver paixões e sentir coisas do jeitinho que a gente vive. Os cenários integrados em meio aos pensamentos e ações da personagem deixam ainda a série mais viva.
A família da Kamala é apaixonante e cativante e a gente vê que houve muito cuidado em trazer isso para a tela. Eles são a base e o apoio da personagem e é algo muito familiar como vemos em diversas outras produções que envolvem a Disney. A abordagem cultural da série tem seus pontos positivos e negativos, mas até então, só de não retratar a cultura muçulmana como algo exótico em que nunca tivéssemos visto, sem filtros amarelados ou exageros já é uma vitória. A preocupação da série em explicar a partição dos indianos, foi bem elaborada, de certo ponto dos indianos, mas sem muito aprofundamentos como um problema causado certamente pelos britânicos, mas de certo ponto, foi educativa e pode despertar o interesse em pesquisar mais sobre o assunto da Independência do país.
Claro que essa abordagem de Ms. Marvel com a cultura paquistanesa não aconteceu com a mesma magnitude que houve com Pantera Negra, mas ainda assim, desperta o interesse do público em ter mais contato com ela. As músicas, elencos e referências são todas bem encaixadas nesse sentido., além do elenco majoritariamente paquistanês.
PONTOS NEGATIVOS
Ms. Marvel segue os mesmos moldes das outras séries apresentadas no MCU, com uma introdução básica do que está acontecendo, um momento de ação e depois um desfecho, o que parece ser mais um grande filme dividido em 6 partes, deixando a desejar muitas vezes parte do desenvolvimento da história e inserindo elementos que nunca vão utilizar e outros sem qualquer explicação lógica.
Um erro comum de todas as séries e filmes do MCU até o momento, é que os roteiros beiram a criminalidade de tanta preguiça na elaboração. Por muito tempo, a série se perde tentando não errar com sua mitologia e seus personagens constantemente perdem tempo com justificativas entre eles que não nos interessam. Como a maior parte do tempo é gasta com outras coisas, há pouco espaço para desenvolvimento de personagens e dar atenção ao aprofundamento dos seus sentimentos para outros acontecimentos diante deles.
Se isso não ficar explícito para você, deixe-me lembrar o quanto a Kamala é uma personagem que passa certas dificuldades em seu ambiente escolar e em nenhum momento sabemos de fato o que sua personagem está sentindo em relação a isso. Sabemos que o período escolar é complicado, Kamala é sempre ignorada por boa parte dos colegas, professores que até erram o seu nome e maravilhosamente da noite pro dia ela consegue virar uma personagem autoconfiante que encara e bate de frente todos os seus problemas, sem os espectadores nunca terem visto de fato ela ser afetada em nada.
A série acrescenta uma equipe de busca e contenção de danos que fica atrás da Kamala e o bracelete, e como bom e qualquer elemento genérico que o MCU introduz, primeiro batemos e depois conversamos, e claro, muita perseguição e destruição pelas ruas. Esse é o mínimo que a série pÔde embaralhar tudo com o seu roteiro fraco e confuso, lembrando que boa representação não significa que a produção não seja sujeitada a erros grotescos dentro do seu próprio roteiro. Se tudo que precisava era só bater no bracelete, como que pode o roteiro ter criado tanto gancho desnecessário para que os Clandestinos fossem inimigos da Kamala?! De fato o roteiro continua sendo o maior vilão da Marvel Studios em 11 anos.
Com o mesmo erro de Shang-Chi, a série introduz um elemento mágico em que pouco se importa em explicar as origens e magnitude de seus poderes. O bracelete apenas faz coisas e ele tá ali fazendo coisas inexplicáveis como levar Kamala ao passado ou sua fenda aberta matar quem tenta passar. Além de que os vilões da série ou qualquer ação dos personagens nunca são realmente questionadas, as coisas acontecem porque está escrito que deve acontecer e se explicam de formas fáceis e genéricas até mesmo para um produto comercial feito para jovens e crianças.
ELA É MUTANTE!
Por fim, a série dá um gancho para a origem da personagem e um ponto final nas especulações. Após apresentar diversos elementos que pareciam uma ligação com os Inumanos, a Marvel mata a charada e considera a Kamala Khan como a primeira MUTANTE do MCU. Mesmo que em outras mídias você tenha sido apresentado rapidamente a alguns personagens já vistos nos quadrinhos e que são mutantes, a atriz Iman Vellani confirma que ficou muito feliz com o resultado em entrevista no Marvel.com.
A série, assim como toda produção do MCU, não fideliza quase nenhum aspecto das origens da personagem, principalmente em sua caracterização, para que sua história se encaixe em todo o contexto criado e gerado para que o estúdio funcione como um todo. Afinal, não é só porque funcionou e o que pode ser bom para uns, pode não ser para outros. Para os leitores de quadrinhos, é comum ver que os Inumanos e Mutantes tiveram vários problemas e muitas divergências, mas também é sabido que a Marvel odeia acima de tudo os Inumanos e fazem de tudo para que esses personagens simplesmente parem de existir. Mas aqui pra nós, assim como toda produção da Marvel, vamos esperar pelo futuro e ver o que ainda podem aprontar com os personagens.
A equipe de direção de Ms.Marvel inclui os nomes Adil El Arbi e Bilall Fallah (Bad Boys para Sempre), Sharmeen Obaid-Chinoy (duas vezes vencedora do Oscar na categoria Melhor Documentário em Curta-Metragem) e Meera Menon (The Walking Dead). Ms. Marvel retorna em The Marvel’s, segundo filme solo da Capitã Marvel.
Sou cinéfila e meu filme favorito é indie e pouco conhecido, ele se chama Barbie Fairytopia.