Crítica | Mães Paralelas: Almodóvar a Cor e a Melancolia
7 Março, 2022Desde sua estreia em 1983 com Maus Hábitos, Pedro Almodóvar escreveu sua história dentro do cinema mundial, com longas excelentes e outros nem tanto, o diretor assinou seu nome dentro de uma estética única.
Não seria diferente com Mães Paralelas, filme que trabalha a maternidade, os sentimentos e a melancolia de um forma imersiva dentro de um universo tão presente. Com alguns estereótipos propositais, Almodóvar usa uma sinopse comum para falar sobre sentimentos.
“Duas mães solo se conhecem em um quarto de hospital quando estão prestes a dar à luz. Uma é uma mulher madura, enquanto a outra é uma adolescente assustada. As duas formam um forte vínculo que transforma suas vidas.”
O roteiro pode parecer morno, e talvez seja, mas a forma que o almodóvar trabalha personagens engrandece qualquer escrita, uma vez que o mesmo escreveu só mostra a facilidade e a maestria que ele tem para desenvolver os sentimentos pessoais, amor, felicidade, angústia, prazer…
A narrativa gira em torno de uma trama principal envolvendo as relações maternas que constitui em três estereótipos de mães, a Janis (Penélope Cruz), mulher de meia idade que fica grávida, e recebe essa gravidez com muita felicidade, carrega personalidade forte e independente e desenvolve isso muito bem, é inegável o poder de interpretação da atriz nesse filme, a voracidade que ela engole o roteiro com suas expressões inconsistentes e olhar marcado, não só vale sua indicação ao oscar de melhor atriz como também enriquece a experiência assistindo o filme.
Ana (Milena Smit), mulher jovem que encara sua gravidez com medo, seja pelo ambiente desestruturado de sua família, seja pela sua pouca idade, esse estereótipo de mãe adolescente é muito comum em obras de ficção e na vida, o problema é que a progressão da personagem não é tão interessante, existe um amadurecimento, existe sentimento mas a atriz deixa a desejar, e talvez nem seja culpa dela mas contracenar de formas direta com uma parceira tão boa é realmente difícil.
Outra personagem que se encaixa na narrativa Teresa (Aitana Sánchez-Gijón) mae de ana, personifica uma mulher forte que tem um sonho e sacrifica o cuidado de sua filha por ele, a personagem é interessante para o background de ana, mas não é interessante não foge do comum não é extraordinária e beira a apatia.
Existe ainda uma subtrama que inicia o filme, é promissora mas se não estivesse ali não faria falta, o que é uma pena pois envolve a ditadura franquista, mas só é tocada no início e no fim do filme de forma rasa, o que é uma pena, pois almodóvar carrega uma assinatura muito forte dentro da liberdade política.
A direção com planos fechados causando a melancolia das personagens com as cores fortes do almodóvar nunca decepciona, o poder que o diretor tem de colocar tudo dentro de um pote bater e ainda deixar tudo tão coeso e bonito não dá para criticar.
Alberto Iglesias, mostra mais uma vez que sua união com o diretor vai ser sempre um acerto, sua trilha segue sendo impecável, pois assim como Almodóvar dirige e escreve sentimentos, Iglesias compõe sentimentos.
Madres Paralelas é um bom filme, mas está longe de ser um clássico do diretor e corre um risco de cair no esquecimento dentro da sua vasta filmografia, e depois do Sucesso de Dor e Glória (2019), que tem um roteiro tão refinado realmente deixa a desejar.
Ficha Técnica:
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Aitana Sánchez-Gijón
Título original: Madres paralelas
Disponível: Netflix / Duração: 2h 03min
Apaixonado por cinema, cerveja e cultura POP. Negro e defensor do cinema nacional