Coluna | Por que Supergirl representa nossos dias atuais?
21 Novembro, 2018Quem acompanha a série “Supergirl” sabe que representatividade é com a gente mesmo. Desde sua primeira temporada temos uma série protagonizada por 2 mulheres (Kara e Alex Danvers) e um homem negro. A vilã principal do primeiro arco da série também é uma mulher, e várias outras vilãs são apresentadas ao longo da série, eu particularmente, me senti muito bem representada e é por isso que amei desde o início a série. Então, bem, a série sempre trouxe muita coisa da nossa sociedade atual. Mas quero puxar uma setinha aqui para a quarta temporada que estreou no dia 14 de outubro pela CW.
Em 2016 os Estados Unidos tiveram mais uma eleição presidencial, na qual elegeram o Trump, um candidato polemico dos republicanos conservadores, com várias falas racistas, misóginas, xenofóbicas, entre outras. Em outubro agora, em 2018, foi a vez do Brasil escolher seu chefe do poder executivo, no qual foi eleito Jair Bolsonaro para presidente, com praticamente o mesmo discurso racista, misógino, xenofóbico, entre muitos outros. Na quarta temporada de Supergirl, temos um vilão, coincidentemente, com o mesmo discurso dos citados acima. Vou explicar melhor:
No cenário da série, a Terra é alvo de muita imigração de alienígenas que vêm pra cá com esperança de viver melhor, alguns são expulsos de seus planetas, outros o próprio planeta explodiu, dentre vários motivos… Mas quando chegam aqui, na Terra, enfrentam vários desafios por conta da sua aparência, do preconceito dos terráqueos e até mesmo por medo e isso foi sendo construído ao longo da série de maneira bem sutil até que finalmente explodiu.
O vilão dessa temporada é um cara extremamente preconceituoso, e tem um episódio voltado para ele, de como ele passou de um cidadão comum da sociedade para um líder de um grupo de pessoas totalmente xenofóbicas e preconceituosas com esse grupo social. O ódio tomou conta da população, e muitos dos fatores desse ódio é o medo, muitos seguidores desse líder são pessoas que perderam seus empregos devido a tecnologia que foi traga por esses alienígenas, pessoas que durante as invasões que a Terra sofreu, tiveram suas casas destruídas e suas vidas arruinadas, pessoas que até então eram consideradas “cidadãos de bem” pela sociedade. Mas essas mesmas pessoas são intolerantes, agridem e até matam alienígenas, discriminam, sentem ódio pelo próximo. Vemos aqui uma bela alusão da nossa sociedade, não é mesmo? É uma bela analogia direcionada as minorias e tudo que enfrentamos no dia-a-dia. Tem um episódio que uma das líderes do movimento entra no sistema da L Corp e tenta desativar o holograma usado pelos alienígenas para se disfarçarem, mas só consegue desativar de um, o Brainiac 5, que no momento está numa pizzaria que tem costume de ir sempre, onde o dono é seu amigo e o conhece por frequentar sempre o estabelecimento, e no momento em que seu holograma é desativado uma onda de raiva invade o homem e ele chega no ponto de tentar agredir seu “amigo” e cliente por ele simplesmente ser um alienígena. Quantos de nós somos pessoas boas, com caráter, pessoas honestas, mas quando descobrem nossa orientação sexual nos julgam? Nossa cor de pele, nossas características? Quando a Supergirl descobre esse movimento ela mesma se pergunta: pessoas que eu salvo todos os dias, pessoas que eu ajudo, essas pessoas estão agredindo outras por simplesmente serem diferentes?
Essa quarta temporada mostra direitinho como se deu o processo desse ódio todo que sentimos na pele todos os dias e se agravou ainda mais nesse período de eleição, é um retrato dessa onda de ódio que estamos sofrendo e enfrentando.
“Violência é a mais básica emoção humana e deve ser o último recurso caso a comunicação falhe”
Se não bastasse trazer esse tema para a série com arco principal, além de já cortarmos com protagonistas negros (a série fala muito de racismo), personagens homossexuais, agora temos também uma trasgênero, e ela se identifica com os alienígenas na questão do preconceito por eles enfrentado, tanto que em uma conversa que ela tem com o Jimmy, ela diz pra ele não ficar isento dessa luta, porque quando inocentes estão sendo atacados é necessário fazer algo, segurar um espelho na cara do agressor, é necessário se posicionar, a questão não é equilíbrio (ficar no meio) a questão é justiça! A ignorância é o nosso inimigo, não nós mesmos, muitas das pessoas agem por medo, as pessoas têm medo daquilo que elas não conhecem e não entendem. Como a própria Kara diz, não podemos deixar nossa democracia virar uma anarquia, isso é a última coisa que precisamos, pessoas fazendo justiça com as próprias mãos.
Além de nos posicionar contra o ódio, precisamos também lutar, lutar contra as injustiças, contra as agressões e cada um pode lutar do seu jeito, mas a melhor forma de lutar é com conhecimento, eu creio que a resistência intelectual há de vencer a ignorância, e isso se faz no dia-a-dia.
A temporada ainda está em andamento, por isso deixo aqui minha recomendação para assisti-la, muitos não gostam das series da CW mas definitivamente, Supergirl vale muito a pena conhecer e apreciar! Vamos ter esperança e que ela prevaleça acima de qualquer agressão, vamos resistir sempre pelos nossos direitos e pelas nossas vidas. A Supergirl e o Superman sempre foram símbolo de justiça e esperança e isso é tudo que precisamos agora, vamos nos espelhar neles e lutar por um Brasil, um mundo melhor, onde todas as pessoas se respeitem e respeitem o próximo! É disso que Supergirl trata e é disso que precisamos tratar.
Uma jovem estudante de Direito e apaixonada pelo Superman. Sou apaixonada também por quadrinhos e super-heróis porque vejo neles uma forma de mudar o mundo, nem que seja só um pouquinho. Tento passar esse sentimento pelos meus textos, espero que gostem!