Oscar 2021 | Os 7 de Chicago: Um julgamento que ainda reflete os dias atuais

Oscar 2021 | Os 7 de Chicago: Um julgamento que ainda reflete os dias atuais

6 Abril, 2021 0 Por Ida Carolina Curty

‘Os 7 de Chicago’ é um filme baseado em fatos reais que se passa logo após a Convenção do Partido Democrata no final da década de 1960. A história central do filme é o julgamento dos 8 de Chicago, que logo após se tornam 7.

Escrito e dirigido pelo Aaron Sorkin, Os 7 de Chicago tem muita identidade. Sorkin vem em sua segunda direção e com uma bagagem enorme como roteirista contando histórias reais (A Rede Social, O Homem que Mudou o Jogo, Steve Jobs, etc).

É preciso muito cuidado ao passar para as telas uma história real, já que o exagerou ou a romantização dos fatos além do essencial podem ser um problema. Mas não foi esse o caso com Os 7 de Chicago. O filme começa nos apresentando brevemente seus personagens principais: Abbie Hoffman e Jerry Rubin (Sacha Baron Cohen e Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude, adotando uma postura mais confrontadora; Tom Hayden e Rennie Davis (Eddie Redmayne e Alex Sharp), amigos e ativistas que têm um lado mais pacífico, prezam pela manifestação não-violenta; David Dellinger (John Carrol Lynch), um pai de família totalmente pacifista, diria até radical; John Froines e Lee Weiner (Danny Flaherty e Noah Robbins), ativistas anti-guerra, e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras, além do oitavo réu que se torna muito importante para a história. Outro personagem importante para história é o assistente do promotor Richard Schultz (Joseph Gordon-Levitt).

Com esse elenco já era de se esperar uma grande história, mas Sorkin não se preocupa muito em narrá-la em ordem cronológica, o que se tornou um problema, por diversas vezes nos vemos “perdidos no tempo” com tantos flashbacks. Um ponto positivo, a marca de Sorkin, é alternar entre cenas do filme e cenas reais gravadas do evento, nos dando uma maior proximidade com a história a partir de vídeos da manifestação e da violência policial, que são momentos chave evento em questão, além de cenas impressionantes.

No começo do filme já nos vemos no julgamento, e quando o juiz Julius Hoffman (Frank Langella) entra, o show de horrores começa. Por se tratar de um julgamento político, os réus já estavam condenados desde o primeiro momento, nada que o advogado de defesa William Kunstler (Mark Rylance) dissesse seria acatado pelo juiz, pelo contrário, o juiz se torna o grande vilão desse espetáculo.

Exemplo desse show de horrores foi o tratamento inumano que o oitavo réu recebeu, por diversas vezes foi dito que Bobby Seale só compunha o corpo de réus por ser negro e que isso favoreceria uma sentença condenatória aos réus visto que tinha uma figura “assustadora” entre eles, puro racismo. Desde o primeiro dia de julgamento Seale já reivindicou o direito a um advogado, o que foi negado e ignorado pelo juiz, chegou ao ponto do juiz acorrentá-lo e amordaçá-lo por três dias (no filme esses três dias não são mostrados). O juiz Hoffman só o soltou após o advogado de defesa dos sete dizer que aquilo não era mais um julgamento e sim uma câmara de tortura, tornando assim de 8 réus para 7.

Como já disse, o elenco do filme é um elenco de peso, grandes atores que poderiam ter sido bem mais explorados, faltou diálogo entre eles, a única rixa visível no filme fica entre Tom Hayden e Abbie Hoffman, que apesar de lutarem pelo mesmo ideal, possuem ideologias diferentes e isso os coloca como “inimigos” ao longo do filme.

A intenção de todos os 7 era de ir a Chicago e manifestarem contra a Guerra do Vietnã, uma guerra que já se estendia por anos e que matava muitos jovens inocentes. É óbvio que isso não foi visto de forma positiva pelo Estado, que revidou com força, usando do judiciário como força política, mostrando como somos frágeis perante nossas instituições. Levando em conta o assassinato de Martin Luther King, que desestabilizou os movimentos pelos direitos civis, a chamada “nova esquerda” precisou ganhar mais força, daí a ideia da manifestação. Levando em conta todo esse movimento político no país, já era de se esperar que a polícia agiria com força e brutalidade.

Os 7 de Chicago conta uma história real, tão real que reflete até hoje em nossas vidas, seja no tratamento desumano recebido por Bobby Seale no julgamento, seja pelo ativismo judicial que até hoje se torna um problema. Quando nosso judiciário se torna um instrumento de fazer política o que podemos esperar? O que esperar quando órgão que é responsável por trazer justiça a todos e tem o dever de ser imparcial toma um lado? Em quem podemos confiar? São essas as reflexões que Os 7 de Chicago nos traz, o que devemos fazer a partir disso?