Yara Flor chegou, mas precisamos falar sobre os problemas
6 Janeiro, 2021Anunciado nos últimos meses de 2020, o DC Future State é a nova saga da DC nos quadrinhos e nos trouxe uma personagem nova, Yara Flor.
Criada por Joelle Jones, a personagem teve a sua estreia nos quadrinhos em DC Future State: Wonder Woman, onde podemos ver um pouco sobre a personalidade da personagem e também sobre o que nos aguarda. Não demorou muito para os fãs encheram a timeline dizendo o quão a personagem estava maravilhosa, muitas pessoas elogiaram o desenho, as cores, a cultura apresentada e ficaram ansiosos para as próximas edições. O quadrinho mostra Yara Flor na Floresta Amazônica caçando alguém. No meio da sua jornada, ela se depara com Caipora, entidade muito importante na cultura tupi. Yara está tentando salvar uma irmã amazona das mãos de Hades, e acaba mergulhando em uma longa aventura que deve se desenrolar ao longo das próximas histórias.
Não demorou muito para que pessoas indígenas começassem a se posicionar a respeito da história, que por sinal, não foi bem recebida por este público. A comunicadora e ativista, Alice Pataxó, fez uma série de tweets explicando a problemática da edição apontando questões como sexualização dos corpos indígenas, desrespeito a crenças e outras coisas:
Muitas outras pessoas também apontaram essas questões, até que o assunto acabou chegando até Joelle Jones, que respondeu um tweet de fã dizendo para as pessoas apontarem os problemas da história. Em seguida, Joelle Jones também revelou a uma fã o seu posicionamento sobre as críticas em relação ao quadrinho, dizendo que diversas coisas devem ser reveladas em relação a história da personagem:
Primeiro de tudo, as pessoas têm direito de reclamar da história e do que foi representado, afinal, estamos falando sobre um quadrinho escrito por pessoas que não são indígenas, mas que (provavelmente) pesquisaram a respeito do assunto. É complicado quando um autor fala sobre algo que não tem propriedade, porque na maioria das vezes o autor acaba por mostrar uma visão estereotipada e que pode ser desrespeitosa. Durante a CCXP Worlds, Joelle disse que fez bastante pesquisa sobre o Brasil para abordar a história da personagem. Ela também disse que teve ajuda de artistas brasileiros para complementar a história e arte dos quadrinhos. Por mais que ela tenha pesquisado sobre a cultura, isso não invalida o fato de que o resultado final não tenha saído como o esperado.
É importante ressaltar que o quadrinho usa de elementos especificamente da cultura tupi. Por mais que alguns desses elementos tenham sido assimilados pelo folclore brasileiro, eles ainda fazem parte de uma cultura específica. Por conta disso, muitas pessoas se questionam o motivo de não ter pessoas indígenas brasileiras trabalhando no quadrinho e isso é algo que não pode ser invalidado, porque é sobre a história e vivência dessas pessoas.
Não há problema gostar da Yara Flor e da sua primeira aparição nos quadrinhos, o importante é que não devemos permitir que os elementos culturais sejam utilizados de forma rasa, porque isso abre precedente para que as editoras se sintam confortáveis em representar histórias sobre etnias e minorias de forma vazia e estereotipada. Ainda não se tem detalhes sobre a origem da personagem, mas ficamos no aguardo para que Joelle Jones traga uma história mais aprofunda e bem embasada que realmente demonstre o cuidado e a pesquisa que a autora afirma ter tido. É o mínimo que esperamos para essa personagem que já se tornou favorita entre os fãs da DC Comics.
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.