Análise | Guerra Civil: Contexto Político de Ontem e Hoje – Parte 1.

Quem disse que quadrinhos não é Política? Ta muito enganado. Você pode se abster de conversar e dar uma opinião política, e isso não tá errado, mas não dá pra negar que nossos super-heróis surgiram em muitos dos casos, como uma metáfora aos problemas sociais, políticos e econômicos vividos pela população. A Marvel tem diversas histórias que envolvem política e se tem um exemplo que amamos citar é a equipe dos X-MEN e também a mais recente Guerra Civil que envolve todas as equipes de super-heróis. E é dela que vamos falar, em relação ao contexto histórico vivenciado pelo nosso país e ao redor do mundo.

Direto ao ponto, o foco principal desse artigo é comentar alguns pontos muito importantes retratado no arco de Guerra Civil, que foi um divisor de águas para os quadrinhos. De um lado a regulamentação dos heróis, do outro a liberdade. Para quem não acompanhou os quadrinhos e somente o filme, o início de tudo se dá por conta de um grupo de heróis, os Novos Guerreiros, que provocou a morte de diversos inocentes, mais precisamente por causa de um Reality Show em que participava. Uma escola é atingida e todas as crianças morrem, somando ao todo cerca de 900 ou mais inocentes mortos. Após a tragédia, o governo com apoio da população começa a duvidar da liberdade de atuação dos heróis. Seriam eles perigosos por conta de seus poderes? A opinião pública, a grande mídia, todos começam a pressionar o governo para que tomasse providências diante dessa questão. Assim surge o acordo que obriga todos os super-humanos a se registrarem e também revelar suas identidades. Com isso todos seriam subordinados ao governo, com a liderança da S.H.I.E.L.D. Para quem acha que os eventos do filme giram apenas em torno dos Vingadores, atingiram todos as equipes de super-heróis ao redor do mundo. Muitos mortos, feridos, refugiados, presos. 

E como se deu essa divisão? Time do Homem de Ferro e o time do Capitão América. De um lado, uma parcela de heróis e pessoas que acreditavam que precisavam do controle de suas ações, sendo assim, poderia evitar que os mesmo se tornassem vilões para o público, com suas identidades reveladas. Levando em conta a opinião popular acima de tudo. Do outro lado, o time do Capitão América defendia que os heróis continuassem a favor do povo americano, sem a necessidade de controle do governo. Isso seria uma forma de acabar com a liberdade e corria o risco dos próprios heróis serem usados para conflitos particulares do governo. No próximo texto, contaremos as divisões dessas equipes e as principais diferenças entre o quadrinho e sua adaptação para os cinemas.

Alguém consegue ver uma semelhança dessa regulamentação nos quadrinhos aos ataques do dia 11 de Setembro de 2001 e as mudanças nos EUA? Mais uma vez para refrescar a memória, esse dia foi marcado por  uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos, e com liderança do grupo fundamentalista islâmico al-Qaeda. Cerca de dezenove terroristas sequestraram quatro aviões comerciais, que colidiram com as Torres Gêmeas ou World Trade Center, com o Pentágono e outro em uma região próxima. Não houve sobreviventes nos voos, somados com mais de 2500 mortes no avião e no prédio empresarial etc. Após a tragédia, os Estados Unidos mudaram regras para entrada e permanência no país. A fiscalização nos aeroportos também aumentaram. E hoje a imigração é tema central na disputa política entre conservadores e liberais, republicanos e democratas. Imigrantes que vivem lá há vários anos, relatam que a vida ficou mais difícil. Muçulmanos passaram a ser mais estigmatizados, principalmente os seguidores do Islamismo. A segurança nas ruas aumentaram, mas não para os americanos, e sim porque esses imigrantes começaram a se vistos como intrusos e muitos começaram a ter medo. A partir daí tivemos que chamamos de “Guerra ao Terror”. A proposta de combater o terrorismo com o terrorismo. Tais ações por si só não conseguem justificar uma guerra que assolou dois países e já deixou um incontável número de vítimas, muito mais que as vítimas do 11 de Setembro. 

E o que o temos de semelhante a tudo isso? Todos sabemos que o Brasil não vive e nem chega perto de uma boa fase. Grupos extremistas, fundamentalistas entre outros, vem se levantando em forma de “cidadão de bem’’, ganhando voz no discurso homofóbico, a favor de tortura, liberação do porte de arma, militarismo, xenofobia. E há quem defenda o discurso achando que isso é “opinião’’ que deve ser aceita. Muitos falam que o país se dividiu entre pobres e ricos. Mas desde quando não fomos divididos? Cidadão de bem é todo aquele do bairro nobre, escola particular e todos os privilégios da classe que não precisa sobreviver com um salário mínimo ou menos. Acreditando serem os únicos como vítimas da sociedade. O cidadão do mal todo aquele que ataca e invade o espaço fora das favelas. Antes nunca visto, sempre deixados de lado, o país vivendo nos principais mapas de fome e desigualdade. O Governo e a Igreja querendo ter controle sobre o corpo da mulher, livros sendo queimados e escolas sofrendo represálias com o ensino, que ja defasado, querem continuar acabando o mesmo. E pasmem, temos pessoas que defendem que o Nazismo foi um governo de esquerda.

Se considerarmos o ser humano egoísta e competitivo, como seria possível convivermos em sociedade sem nos matarmos? Liberdade x Segurança, não é assunto apenas para os quadrinhos. É muito mais velho que isso, sendo muito óbvio em Guerra Civil. O que deve ser priorizado, a liberdade dos heróis e das pessoas ou a segurança pública? Na segunda parte dessa série, vamos trazer mais sobre Guerra Civil, nos quadrinhos e como na realidade difere entre Estado de Direito x Exceção. Liberdade e a utopia, como viver debaixo de governo ou da Igreja. Essa primeira parte serve como uma mera reflexão sobre como vivemos e tomadas de decisão. 

Talita Lopes

Sou cinéfila e meu filme favorito é indie e pouco conhecido, ele se chama Barbie Fairytopia.