Crítica | ‘Boca a Boca’ traz um visual impecável, abordagem provocante mas roteiro derrapante

Crítica | ‘Boca a Boca’ traz um visual impecável, abordagem provocante mas roteiro derrapante

29 Julho, 2020 0 Por Murilo Fagundes

Com um visual impecável, Boca a Boca é a nova produção nacional da Netflix e aborda temas importantes usando o “beijo” como elemento catalizador.

Com sua estreia no streaming dia 17 de julho, a nova série da Netflix conseguiu agradar o público tanto por sua narrativa instigante e provocante, quanto por sua estética que talvez seja um dos maiores atributos da série.

Criada por Esmir Filho, com direção conjunta a Juliana Rojas, a trama vai acompanhar jovens de uma pequena cidade no interior de Goiás, depois de uma festa na floresta e a misteriosa aparição de um vírus que é contraído pelo beijo. Em tempos de COVID-19, a premissa simples tornar-se também atual, mesmo que a produção não tenha ligação alguma com a pandemia.

Reprodução: Netflix

A primeira vista, o visual atrai atenção do público brincando com as cores e o neon, mostrando uma direção de arte e fotografia realmente preocupada em entregar um trabalho bem feito que case as cores com a emoção e mensagem da série.

O roteiro talvez seja o problema: ele começa bem, sem encher linguiça, e usa de uma linguagem moderna que se encontra com o ritmo da cidade nomeada “Progresso” — que, ironicamente, contrapõe-se com o conservadorismo por parte dos pais dos jovens do local. No entanto, com o desenrolar dos seus 6 episódios, o roteiro escorrega. É lento, aponta somente para algumas críticas superficiais e dá um final solto e sem explicação para trama, um grande problema caso a série não seja renovada ou os roteiristas se percam nos personagens — que, por sua vez, carregam dramas singulares e pessoais, como sexualidade, preconceito, a desvalorização do trabalho e adolescência.

Seria um problema maior caso o elenco não fosse tão bom, com alguns nomes já conhecidos como Michel Joelsas (Que Horas Ela Volta?), Thomas Aquino (Bacurau), Denise Fraga (O Auto da Compadecida), Grace Passo (Praça Paris) e outras novatos como Iza Moreira e Luana Nasta, que entregam uma boa atuação para seus singulares personagens e suas respectivas jornadas individuais ou dentro da narrativa conjunta.

No final de tudo, Boca a Boca acaba sendo uma boa série que agrada por sua beleza e mensagem, entrando na lista de trabalhos nacionais que contam histórias originais e que usam aspectos que estão em evidência, mesmo de forma não proposital.