Os Novos Mutantes estão chegando e o whitewashing também

Considerado uma verdadeira lenda urbana na cultura pop, Os Novos Mutantes teria sido lançado em Abril de 2018 mas ganhou diversas novas datas e tudo se complicou devido a pandemia da COVID-19. Além de toda demora envolvendo o lançamento, o filme tem sido alvo de críticas dos fãs devido ao whitewashing feito em seus personagens, mas o que seria isso? 

Whitewashing é um termo usado quando se escala uma pessoa branca para interpretar um personagem que é de outra etnia. Esse apagamento já existe há décadas e ganhou muita força nos anos 1950 e 1960 quando se tinha uma grande quantidade de pessoas brancas interpretando personagens asiáticos. 

Ainda nos anos 1960, uma grande polêmica envolvendo whitewashing foi com o filme Cleópatra, no qual a personagem homônima foi interpretada por Elizabeth Taylor, uma mulher branca de olhos azuis, embora a origem histórica da personagem aponte para uma mulher não-branca. Essa situação causou o debate sobre etnias em Hollywood desenvolvendo diversos estudos que comprovaram que várias figuras históricas que foram apresentadas para nós como pessoas brancas eram de outras etnias e que Hollywood sempre tentou nos vender essa imagem. 

Voltando para Os Novos Mutantes: Roberto da Costa é jovem mutante brasileiro, negro e que mora no Rio de Janeiro. Durante uma partida de futebol, Roberto sofre um ataque racista de um dos jogadores e acaba despertando os seus poderes no qual seu corpo fica inteiramente em chamas e ganhando super-força. Cecilia Reyes é uma mulher negra que nasceu em Porto Rico e mora no Bronx e decidiu se tornar médica após presenciar a morte do seu pai que foi morto a tiros. Cecília se torna uma médica especializada em cirurgia de trauma e logo é recrutada pelos X-Men ao ser descoberta como uma mutante. Ambos personagens estarão no filme, mas o problema é que Roberto será interpretado por Henry Zaga e Cecília por Alice Braga, ambos atores brancos. 

Não é segredo para ninguém que a franquia de X-Men não foi tão fiel como os quadrinhos e também não precisa ser, afinal, estamos falando de adaptação e isso envolve uma série de pessoas responsáveis pela qualidade e corpo criativo do projeto, mas no caso de Os Novos Mutantes mostra apenas que esse desserviço ainda existe e que ainda é um problema. É notável a desigualdade que existe em Hollywood e o quanto os estúdios preferem priorizar atores brancos ao invés de por pessoas não-brancas em suas produções, essa discussão ocorre todo ano quando é divulgada a lista de indicações a grandes premiações como BAFTA, Oscar e Globo de Ouro. Existe toda um problema que deve ser apontado, desde a escalação de um elenco até as grandes premiações, é um ciclo que assombra e embranquece cada vez mais Hollywood — que parece não estar preocupada com a inclusão de atores de outras etnias. 

O whitewashing é só mais um recorte do racismo, onde você impossibilita artistas não brancos a brilharem nas produções audiovisuais. Isto acaba se tornando uma grande bola de neve, porque as produções não dão oportunidades para esses artistas e ele nunca tem a possibilidade de crescer profissionalmente. Dá pra contar nos dedos quantas atrizes e atores não-brancos são bem sucedidos em Hollywood, já que estes profissionais continuamente excluídos e ignorados pelas produções. Por isso, eles se tornam uma quantidade quase irrelevante perto dos atores brancos. 

Usar o argumento de que os filmes que adaptam histórias literárias não devem ter total comprometimento em ser fiel não é algo positivo, porque a questão em si não é o roteiro do filme, e sim tirar algo que possa representar outras etnias e tirar a oportunidade de artistas não-brancos em uma indústria totalmente racista. 

Marcos Marques

Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.