‘Back to Black’ falha em mostrar o legado de Amy Winehouse
16 Maio, 2024Filme sobre a vida de Amy Winehouse não revela nada de novo, apenas o que o mundo viu através de tabloides.
Lançado em 2015, Amy, documentário que fala sobre a vida da artista, conquistou os críticos e também os fãs, sendo apontado como algo que mostra a história de Amy Winehouse muito além de manchetes e tabloides do mundo.
O documentário mostra registros pessoais e depoimentos de muitas pessoas, incluindo familiares, amigos, produtores e outros que eram mais próximos e que conviveram com a cantora por anos.
9 anos depois surge Back to Black, cinebiografia da cantora que estreia nos cinemas brasileiros esta semana, mas que já foi lançada no Reino Unido em abril. Dirigido por Sam Taylor-Johnson, que ficou conhecido por dirigir 50 tons de Cinza, o filme também conta com a atriz Marisa Abela dando vida a Amy.
Filmes biográficos são sempre complicados, principalmente quando se trata de figuras que aos olhos do público são “polêmicas” ou que tiveram uma vida conturbada por diversos motivos. Com o filme da Amy não é diferente, afinal a artista foi uma das figuras que mais polêmicas da história da música, principalmente por problemas complicados envolvendo bebida e álcool, que foram registradas diversas vezes pelas lentes de paparazzis e tabloides gigantes do Reino Unido.
E é aqui que o filme quer se apegar, em mostrar as fases de Amy Winehouse de uma forma muito trágica, querendo reforçar para o público uma imagem que ficou marcada através de manchetes. E aqui é o grande problema do filme.
No começo de 2023 chegou aos cinemas I Wanna Dance With Somebody, filme que conta a história de Whitney Houston. O filme fala muito sobre a carreira dela, de uma forma mais voltada à homenagem do que ela foi ao invés de ir ao fundo dos problemas envolvendo álcool e drogas que ela enfrentou. Inclusive, a diretora Kasi Lemmons declarou que a intenção do filme nunca foi se aprofundar nos problemas de Whitney, e sim no legado que a artista deixou.
Back to Black vai totalmente ao contrário. O filme foca pouco na construção de Amy como artista e a coloca em um lugar onde o mundo a viu. São poucos os momentos que mostram de fato Amy sendo uma artista. O longa ignora totalmente momentos onde ela trabalha em suas músicas, ou momentos que existem interações com essas pessoas que fizeram parte da vida dela. É tudo tão superficial que dá a entender que Amy sempre foi uma pessoa problemática, principalmente ao que se diz em seu relacionamento com Blake.
Assim como o filme dá uma mega passada de pano no Blake, o namorado problemático de Amy que ela era apaixonada e que foi um dos responsáveis pela sua queda, o filme também isenta Mitchell Winehouse, pai de Amy, e o coloca em uma posição quase de imaculado. O filme esconde muita coisa que envolve o pai de Amy, coisas que foram expostas em documentários, livros e mídia. No filme o Blake não tem sua parcela de culpa pelo relacionamento tóxico e abusivo que eles viveram e muitas das vezes dá a entender que o problema todo é apenas da Amy, o que de longe nunca foi verdade.
Por sua vez, Marisa Abela até se sustenta na pele de Amy. Nas primeiras imagens divulgadas a caracterização dela foi bastante julgada e acredito que a maioria das pessoas que apontaram sobre a caracterização foram os fãs da Amy, prevendo que tudo poderia dar errado. Mas ver ela em ação é realmente muito bom. Em várias cenas você consegue enxergar a Amy Winehouse, e um crédito muito bom para a atriz vai pelo fato dela ter gravado algumas músicas, diferente de outras cinebiografias que às vezes o ator apenas dubla a música.
As cenas do filme também são boas, principalmente quando toca as músicas da Amy. Momentos de shows e também da famosa cena dela ganhando o Grammy são bem significativas, mas é uma pena que elas não conseguem fazer com que o filme melhore.
Back to Black é mais uma cinebiografia que nos mostra que precisa ter um cuidado muito grande para contar a história de alguém nas telas dos cinemas. A narrativa pode ser contada de diversas formas e focadas em algum momento específico dessa figura. Mas também é importante lembrar que às vezes a escolha não é tão boa, onde pode ser contada uma história mais interessante, atrativa e até mesmo respeitosa, algo que o filme não soube fazer ao contar sobre uma das maiores artistas da música.
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.