Nada de Novo no Front: Os horrores da guerra e a banalização da vida

Filme da Netflix é um dos mais aclamados de 2022.

Convenhamos que filmes épicos com histórias de guerras são comuns dentro do cinema, principalmente quando falamos de Hollywood, que, geralmente romantizando a guerra ou usando de cenário para elevar o ego de diretores que querem mostrar uma grande produção em um roteiro quase sempre vazio e clichê.

Arrisco dizer que Nada de Novo no Front, filme alemão produzido pela Netflix, traz de forma quase sádica a adaptação do livro de mesmo nome de 1929, uma parte dos horrores da linha de frente alemã na  primeira guerra mundial.

O filme começa mostrando um grupo de jovens antes do alistamento com ideias conturbado sobre a guerra e o progresso, passando transitando entre entusiasmo e banalização da vida como a utilização de uniformes de soldados mortos sem sequer tirar as etiquetas antes de passar para outro, mostrando o quanto os corpos dos soldados eram mais descartáveis que tecidos. Assim caminhamos para a realidade, onde todo o entusiasmo idealista, patriota e quebrado pela tensão e o horror da guerra onde corpos são apenas um amontoado de lama dentro de uma trincheira.

Quando falamos de épicos de guerra podemos esperar uma grande produção, aqui não é diferente o trabalho que rendeu a indicação ao Oscar de Melhor Direção ao Edward Berger que consegue dar toda tensão necessária ao filme sem parecer apelativo mesmo que de forma explícita, violenta e explososiva em planos sequências são comuns, mas aqui temos uma direção comprometida com o horror da guerra e não a valorização dela. Isso fica notável não só na sua direção, mas em alguns pequenos pontos do roteiro quando citada as baixas, ou na forma cíclica que ele acaba dando o mesmo trajeto do personagem inicial ao personagem final.

Nada de Novo no Fronte é uma combinação de vários aspectos cinematográficos que funciona muito bem. Um roteiro simples que não se compromete em contar uma história sobre as motivações e o porquê da guerra, mas sim sobre corpos que estão ali prontos para possíveis abates.

A fotografia ficou por conta do James Friend e impressiona por sua limpeza mesmo quando existe toda uma sujeira objetiva e subjetiva no set, com tons frios em sua maiori, mas que esquenta em pequenos pontos. Fotografia essa que enquadra a lama e o sangue quase que uma pintura gore masoquista.

O trabalho sonoro também é notável, existe uma limpeza muito grande que às vezes começa leve e suave, mas cresce gradativamente ao decorrer das tensões postas em cenas.

Nada de Novo no Front, rendeu nove indicações ao Oscar de 2023, que incluem de Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Filme e mais. É importante lembrar que o último filme de guerra do Oscar foi 1917 (2019), filme que estava mais interessado em mostrar como o diretor queria ser bom em fazer um grande plano sequência do que a própria história que provavelmente nem ele lembra. Mas valeu a pena, afinal, rendeu a estatueta de Melhor Direção para Sam Mendes.

Eu particularmente não consigo dizer se ele fez ou fará história quando se fala de cinema de guerra, mas a sua grandiosidade e a qualidade é de fato notória e será por muito tempo notada, mesmo que em nichos específicos.

Ficha Técnica 

• Título: Im Westen Nichts Neues (Original)/ Nada de Novo no Front (Brasil)
• Ano: 2022
• Direção: Edward Berger
• Fotografia: James Friend
• Roteiro: Edward Berger, Lesley Paterson e Ian Stokell
• Elenco: Felix Kammerer, Albert Schuch, Aaron Hilmer Moritz Klaus, Daniel Bruhl…
• País: Alemanha