Crítica | A Tragédia de Macbeth traz Shakespeare para o século XXI
17 Fevereiro, 2022MacBeth é uma das mais famosas peças de Shakespeare. Nela temos uma tragédia concisa, focada na mente humana, em suas ambições, no poder. Ao trazer essa história para o cinema, Joel Coen, que pela primeira vez trabalha na direção e no roteiro do longa sem seu irmão Ethan, foi ambicioso.
Ao longo dos anos, com a evolução do audiovisual, tivemos várias peças de Shakespeare sendo adaptada para as telonas, diversas variações de Romeu e Julieta, A Megera Domada, Hamlet e até a própria peça de Macbeth, dentre várias outras obras. E é exatamente por isso que mais uma adaptação do mais famoso dramaturgo inglês teria que ser ambiciosa.
Joel Coen tinha um grande desafio, além de estar trabalhando na direção e roteiro sozinho, ele escalou Denzel Washington para viver o grande General Macbeth, e escalou também sua esposa, Frances McDormand, para viver a Lady Macbeth, esposa do General, e a mente por trás da ambição que fez o General virar Rei. Com dois nomes de peso no elenco principal certamente Coen tinha muito trabalho a fazer.
A Tragédia de Macbeth nos remete ao século XVII, não só pela escolha das cores do filme, que é todo em preto e branco, mas porque temos a sensação de que ele se passa nos palcos de um teatro da era shakesperiana. As filmagens foram todas feitas em estúdio justamente para manter essa sensação de estarem em um palco, os cenários foram especialmente construídos para passar essa sensação de que tudo era artificial.
A escolha do enquadramento em 4×3 também não foi à toa, esse tipo de filmagem em todo momento apequena o personagem, e Macbeth é uma peça sobre a ambição humana. O antes General Macbeth acaba por dar ouvidos a uma profecia pagã profanada por três bruxas e então se torna Rei através de assassinato, traição, e não fica só no assassinato do Rei, a ambição toma-lhe conta e o deixa louco. À medida que ele e sua esposa vão enlouquecendo o jogo de câmera nos deixando claustrofóbicos dentro do próprio filme, por isso a escolha do preto e branco também foi importante. Esse estilo de filmagem costuma apequenar o homem para elevar Deus, tanto que até em cenários abertos, como na floresta, ainda temos a sensação de aperto.
A montagem do filme e as passagem das cenas mostram um trabalho de arte incrível, Joel Coen consegue reinventar Macbeth e tudo isso aliado a uma trilha sonora teatral, Carter Burwell faz um trabalho excelente que alinha o ambiente com a época da peça. A trilha sonora parece nos levar a Escócia e o ambiente do filme nos remete ao expressionismo alemão, com grandes ecos, grandes sombras e aquela sensação enorme e proposital de vazio.
Exemplo de expressionismo alemão é o uso da sombra no filme Nosferatu, nele o diretor Friedrich Wilhelm Murnau usa do protagonista, que é um vampiro, para refletir e impor nele sombras que são traços de sua personalidade, vemos isso de forma recorrente com o uso da escuridão em torno dele e de como ele é revelado, principalmente, através de sua sombra. Com Macbeth isso também acontece, o filme conta a tragédia da mente humana, ele entra, principalmente, na cabeça, na personalidade de Macbeth e da Lady Macbeth e de como a tragédia não é só sobre o reino da Escócia, mas, também, da ambição humana.
Tudo isso é um trabalho incrível do Joel Coen junto ao designer de produção Stefan Dechant e o diretor de fotografia Bruno Delbonnel.
Mas dentre tudo isso, o que mais me chamou atenção foi o roteiro. O roteiro do filme está, quase, igual ao original da peça, a atuação do Denzel Washington com as palavras exatas de William Shakespeare deram um poder extraordinário a esse filme, não é a toa que ele foi indicado ao Oscar de Melhor Ator. As alterações foram quase imperceptíveis, o roteiro, com certeza, é o ponto forte do filme, porque ele dá poder aos atores, principalmente aos que, de fato, sabem atuar, como é o caso da Frances e do Denzel, que deram um show de atuação, com um desempenho incrível no filme.
A Tragédia de Macbeth também foi indicada a Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte.
Uma jovem estudante de Direito e apaixonada pelo Superman. Sou apaixonada também por quadrinhos e super-heróis porque vejo neles uma forma de mudar o mundo, nem que seja só um pouquinho. Tento passar esse sentimento pelos meus textos, espero que gostem!