Paprika, A Origem e Matrix: O que é real?
27 Janeiro, 2022Não é de hoje que a ficção cientifica é alvo de abordagens diversas em obras cinematográficas. Desde o início do cinema, quando nem se tinha noção da ideia de ficção cientifica, correntes como o surrealismo brincavam com as formas, as sensações e o imaginário singular humano.
Anos se passaram, a técnica foi aperfeiçoada e com o tempo a ficção cientifica começou a abordar muito mais que guerras galácticas ou viagens no tempo, mostrando um lado tão interessante e peculiar que instiga e fascina até mesmo sem perceber: as relações pessoais e interpessoais da humanidade não só como individuo, mas como sociedade (calma esse não é um texto sobre o BBB).
Sendo assim escolhi três filmes para uma análise quase comparativa – e rasa diante da grandiosidade e complexibilidade das obras –, Matrix (1999), dirigido pelas irmãs Wachowski, Paprika (2006) animação de Satoshi Kon e A Origem (2010) de Cristopher Nolan.
Partindo de um pressuposto de que a ficção cientifica tenta fugir de uma realidade aparentemente cotidiana, transformando em uma realidade única em uma grande apropriação quase literal do seu significado (ficção), chegamos ao ponto comum nestas três obras: a fuga de realidade e a viagem no subconsciente humano entre o ter e o querer.
Matrix por si só, já em uma grande viagem e não estou falando só do sentido literal: temos um enredo que se inicia com duas pílulas que permitem a escolha entre viver uma realidade alienada aos caprichos da vontade e do consumismo, e uma realidade muito mais crua, na qual você estria mais próximo da cobiçada liberdade. Assim, temos uma obra dualista que brinca com o controle e a liberdade, do corpo e da mente humana.
Anos depois, Satoshi Kon presenteia a cultura com o seu último filme, Paprika, que talvez seja uma das animações mais complexas e brilhantes, misturando a psicologia dos sonhos com os desejos, colocando a tecnologia e o estudo da mente humana como parceiras. Aqui temos uma obra que mistura o surrealismo extravagante em suas cores em uma narrativa desconcertante e complexa, atenta não só aos detalhes quanto a história. Talvez o mais interessante de Paprika seja o fato do vilão usar e manipular os sonhos das pessoas, transformando tudo em um verdadeiro caos, onde não se sabe o que é real ou não.
Fazendo ponte para A Origem, que tem uma narrativa muito parecida com Paprika (que foi uma das inspirações do Nolan para o filme), o filme trata basicamente da mesma coisa: a relação do sonho e da realidade. Embora o longa de 2010 seja “fraco” em relação ao anime de 2006 quando comparados, ele consegue se sobressair muito bem em relação a objetividade do que ele quer passar, mostrando bem a subjetividade e fragilidade da mente humana quando expostas aos desejos.
Mas o que tanto instiga assistir essas obras que foram grandes sucessos é esse interesse peculiar com a nossa relação entre nossos desejos, falhas e dualidades, que quando expostas podem transformar tudo em um verdadeiro caos? Obvio que estamos falando de obras fictícias, que vão ser direcionadas ao caos em algum momento, mas que pode ser relacionada a várias questões sociais da humanidade.
Então, por mais singular que sejam, obras que tratam a mente humana sempre vão colidir em um ponto: a nossa fragilidade do desejo e da liberdade.
Sendo assim não tenho como responder o que é real e o que é ficção, afinal viver uma realidade paralela seja ela imaginaria quando estamos olhando para o nada, ou em um sonho quando estamos dormindo, é bom, afinal essas realidades geralmente fazem “bem”, mesmo que de forma irreal, até que nos alienamos a isto e alcançamos o caos.
No fim, nunca saberemos de fato se o que estamos vivendo é real ou apenas uma grande matrix.
Apaixonado por cinema, cerveja e cultura POP. Negro e defensor do cinema nacional