Arcane: A perfeição e dominação de League of Legends quando o assunto é narrativas profundas em ótimos visuais
25 Novembro, 2021Lançado em 2009, provavelmente não se tinha noção do quão grande e popular o universo do moba online League of Legends seria, assim foi construindo seu legado e se tornando um dos jogos mais populares da história ele transcendeu a barreira do computador e construiu um verdadeiro império.
Com diversos campeões, campeonatos, HQs, e até mesmo no ramo da música, League of Legends conseguiu transitar de forma coesa com todas as mídias que se propunha sem deixar sua verdadeira essência para trás.
(Essa análise foi feita sem aprofundar nas questões dos personagens no intuito de não entregar spoilers entregando uma melhor experiência para quem ainda não assistiu)
E com essa enorme popularidade surge Arcane, a primeira série animada do universo dos jogos, trazendo personagens já conhecidos dentro de uma narrativa familiar, mas com uma profundidade e maestria pouquíssimo vista atualmente.
Confesso que sou novo no universo de jogos do LoL, mas sempre fui encantando com as lores (informações e histórias de personagens e regiões do universo do jogo) de seus vários campeões. Com isso, a expectativa para Arcane já era alta, afinal jogo por si só tem um banco de narrativa gigante, sendo assim a chances de erros e acertos eram quase as mesmas, pois poderia trazer uma grande quantidade de personagens e regiões, mas com um desenvolvimento medíocre.
Mas Arcane não cai nessa armadilha e entrega uma obra sentimental, coesa, cuidadosa com ótimos e bem desenvolvidos personagens dentro de um enredo emocionante, violento, político com um excelente visual e uma trilha sonora arrepiante e ainda assim consegue atingir os fãs desse universo e pessoas que não tem contato algum com o LoL.
A série é dividida em três atos com três episódios cada e a narrativa inicial acompanha as irmãs Violet (VI) e Powder (Jinx) que logo no início já enfrentam os horrores da violência da guerra de um mundo totalmente desigual e injusto. A produção consegue trabalhar todos esses atos de forma totalmente orgânica colocando saltos temporais, separações e encontros de forma coesa.
No início pode até parecer um enredo sobre família e sentimentos, mas Arcane vai além e coloca todo um background que catalisa as emoções e questões sociopolíticas extremamente reais no mundo. Misturando magia, tecnologia, poder, influencia e pobreza ela mescla questões sociais e geográficas de uma forma bem feita e impactante.
A série que a todo momento é ambientada em Piltover, lado alto da cidade que carrega a mistura de uma estética vitoriana com a tecnologia, e a Subferia (futuramente Zaun) lado baixo da cidade, descuidado e pobre onde a população está a todo momento sobrevivendo em um ambiente hostil tendo em contraste a estética tecnológica com a cyberpunk.
O roteiro da série deixa bem claro o quão contrastante esses dois lugares são. Enquanto Piltover carrega a riqueza e a tecnologia e Zaun vai cada vez mais se afundado e isso tanto de forma explicita quanto em detalhes como no final do primeiro ato: a bomba da joia hextech feita pela Jinx trouxe uma enorme consequência para Zaun, enquanto Piltover conseguiu se desenvolver mais com a mesma tecnologia, deixando claro para nós o quão a riqueza da aristocracia é fruto de uma pobreza imensurável. Ainda sim esses dois lugares tão diferentes, carregam uma política tão parecida com conselhos secretos e um esquema de corrupção que transita todos os espaços.
O segundo ato funciona como um grande desequilíbrio, pega as pontas do primeiro e eclode em uma série de problemas em relações mostrando a grande instabilidade social das cidades e dos personagens, montando uma ponte para o terceiro ato, talvez um dos mais grandiosos por trabalhar todas as questões da série sem se perder ou esquecer de algo em um visual deslumbrante.
Arcane no geral é uma obra excelente e por mais que eu tente, é extremamente difícil citar algum defeito. A forma o qual a narrativa é construída quebrando a zona de conforto, dando um estranhamento proposital, dentro de um visual que mistura o 3D e 2D com contrastes de cores, dentro de uma trilha sonora incrível, com cenas de lutas impactantes num background de personagens profundos e bem desenvolvidos é algo realmente raro que vale muito a pena acompanhar.
Apaixonado por cinema, cerveja e cultura POP. Negro e defensor do cinema nacional