Coluna | Como o MCU fez do Hulk uma das suas piores adaptações
27 Outubro, 2021Hulk é o Hulk. Um dos personagens mais reconhecidos do mundo dos quadrinhos. Seja pela Marvel ou no mundo dos heróis em geral, o fato de ser bruto exatamente não significa não ser um do mais queridos.
A primeira aparição do personagem nos quadrinhos foi no ano de 1962 em The Incredible Hulk #1 escrito por Stan Lee e Jack Kirby, tendo influências diretamente das obras do personagem Frankenstein e fantasias de lobisomens. Nas primeiras histórias ainda, Hulk se transformava pelo ciclo do dia. De dia era o Dr. Bruce Banner e a noite se transformava no Hulk e desde então o personagem passou por diversas adaptações, recebendo diferentes tratamentos e se transformou no herói icônico, que inclusive é totalmente fora do padrão.
Apesar da sua força imensurável, sua aparência gigante de cor verde e monstruosa, ele abriga histórias com carga emocional complexa e um tanto dramática de ponto de vista psicológico, carregando o dilema entre ser duas pessoas diferentes no corpo de uma, além da questão familia com o seu pai e a sua mãe, e isso especificamente parece nunca ter interessado o mainstream do cinema.
Adaptações do Hulk ao longo dos anos:
A primeira adaptação live action do Hulk foi em 1978, com a série O Incrível Hulk que durou até o ano de 1982 e teve cinco temporadas. A série foi obviamente um sucesso para sua época, mesmo sem seguir coerentemente os acontecimentos dos quadrinhos, mas ainda sim fizeram as pessoas se apaixonarem pelo personagem.
Diferente da computação gráfica que acostumamos ver nos últimos 10 anos, Hulk e Banner eram interpretados por atores diferentes. O David Banner era interpretado pelo ator Bill Bixby, e o Hulk era interpretado por Lou Ferrigno, ator e fisiculturista, que mede quase 2 metros de altura.
A continuação veio em 1988, mas como um filme chamado A Volta do Incrível Hulk. Seguido do filme O Julgamento Do Incrível Hulk (1989) e o último filme fechando a trilogia com A Morte Do Incrível Hulk (1990).
Após 13 anos nasce em 2003 o filme Hulk distribuído pela Universal. Dessa vez o ator Eric Bana veio às telas representando o verdão, agora utilizando técnicas de CGI nos efeitos especiais do personagem e efeitos melhorados para a época. O que podemos dizer que foi uma evolução na parte técnica, mas um verdadeiro desastre com as críticas em geral.
O filme mostra a relação pai e filho, onde David Banner acha uma suposta maneira de curar feridas mais rapidamente, enquanto participa de um programa de criação do soro de supersoldado para o exército americano e acaba testando o soro em si mesmo e passa o DNA para seu filho Bruce. Mas depois tenta matar a criança, mas a sua mãe intervém e acaba sendo morta e Bruce levado para adoção. Pode não haver um consenso do melhor filme de super herói do mundo, mas parece que o conceito de pior ficou guardado para a direção de Ang Lee.
Anos mais tarde, a coisa continua feia para o Golias Esmeralda. O Incrível Hulk de 2008, dirigido por Louis Leterrier, marca o primeiro filme da Marvel Studios, mesmo ainda sendo distribuído pela Universal, ele faz parte da linha do tempo oficial do Universo Cinematográfico da Marvel que conhecemos.
Nesse filme, quem vive o papel de Bruce Banner é o ator Edward Norton, e a história traz o personagem até o Brasil após ficar foragido do governo, quando em um acesso de raiva ao ser exposto a radiação gama, em consequência aos testes de replicação do soro de supersoldado a mando do General Ross. Um incidente o transforma no Hulk, que acaba matando e ferindo diversas pessoas do laboratório.
Escondido na Rocinha (RJ) enquanto tenta trabalhar na cura para o seu “problema”, Bruce passa um certo período sem se transformar no Hulk, mantendo conversas com um cara misterioso chamado “Azul”, que mais tarde estaria usando seu sangue para outras experiências. O período de paz não dura muito tempo e Banner é basicamente obrigado a voltar aos EUA, mesmo foragido, e é descoberto por Ross e Blonsky, o qual se revela um potencial inimigo durante uma briga desnecessária num campus universitário.
É um filme que apresenta boas sequências de ação, efeitos visuais práticos e uma edição de som invejável. A adaptação de todo modo não é ruim, mas também não é genial e mal é lembrada.
Hulk do MCU como o herói mais esquecível dos Vingadores
Depois de sucessivos erros, nenhuma medida para consertar e dar uma merecida adaptação a um dos mais conhecidos dos Vingadores e herói da Marvel foi feita. Ao longo dos 10 incríveis anos de MCU, as suas outras aparições apenas o transformou em algo extremamente comercial para o público e venda de bonecos.
Nos quadrinhos, Hulk faz parte das primeiras formações dos Vingadores, e quanto às referências dos quadrinhos e filmes da última década, o vilão da equipe foi o Loki também. A equipe era formada pelos mesmos Vingadores (2012) com a diferença somente da personagem Vespa, trocada nos filmes pela Viúva Negra, que nos quadrinhos só veio se tornar uma Vingadora mais tarde.
Em questão de referências, o MCU sempre deixou vários fanservices no meio do caminho em relação às histórias originais dos personagens. Os filmes se passam em terras diferentes, intitulada como Earth 19-9999 e a oficial dos quadrinhos é Earth 616 e apenas algumas coisas são pegas como base. Mas isso não significa que as adaptações cinematográficas precisam ser tão maltratadas.
Tony Stark e Steve Rogers são exemplos de quais tiveram suas histórias contadas e desenvolvidas ao longo dos filmes e o resultado pode ser o que você não esperava, mas que elas foram trabalhadas e dignas do final em Vingadores: Ultimato(2019) foram. Thor e Gavião Arqueiro terão produções que se passam após esse período dando oportunidade de fazer algumas mudanças. E a Viúva Negra também teve seu arco concluído com o filme e o seu filme solo. Mas o Hulk… bom o Hulk continuou sendo uma incógnita no universo.
Em 2012 o Hulk e Bruce Banner retornam para as telonas no primeiro filme dos Vingadores, interpretado pelo queridíssimo ator Mark Ruffalo e dirigido por Joss Whedon. O Filme ultrapassou a bilheteria de Batman: Cavaleiro das Trevas, colocando uma equipe de quadrinhos nada muito conhecida entre as 10 maiores bilheterias dos cinemas no mundo.
O filme foi bem recebido e essa primeira adaptação não é tão grosseira, tirando que Bruce Banner apesar de ter sido chamado como um cientista capaz de rastrear tudo sobre energia gama, acaba servindo mais para esmagar coisas e dar risadas. Toda aquela bestiliade anteriormente mostrada no filme de 2008 se foi, mas também nenhuma característica que valha a pena ser lembrada foi inserida até aqui.
Bruce é um dos cientistas mais fantásticos da Marvel. Mas chegamos a mais uma adaptação em Vingadores: Era de Ultron(2015) onde apenas é o assistente de Tony Stark. O personagem que “ajudou” na criação do Visão, lá na frente em Vingadores: Guerra Infinita (2018) não sabia exatamente o que fazer com sua própria experiência, além de ter sido responsabilizado por causar um caos anteriormente, ao ser controlado pela Feiticeira Escarlate lá em Era de Ultron. O objetivo era sempre fazer do Hulk o Vingador mais sem noção da equipe. Sem contar a péssima forma de associar ao lado cômico o conflito psíquico entre Hulk e Bruce, após enfrentar Thanos, e não conseguir mais se transformar.
Isso porque anteriormente, Hulk havia sumido após os ocorridos em Sokovia e acabou não participando da Guerra Civil (2016), o que parecia ser indícios de uma adaptação de “Planeta Hulk”, mas é claro que a Marvel não tinha planos para continuar insistindo num personagem que perdeu todo seu potencial no cinema e mais uma vez, foi usado inteiramente como alívio cômico, dessa vez da pior forma possível em Thor: Ragnarok (2017) que até então usou alguns elementos da história “Cicatriz Verde”, mas o arco do personagem não acrescentou muito coisa a história além de render boas piadas. Mais uma vez até mesmo sem aproveitar todo o potencial do ator fantástico que tem em mãos.
E por fim tivemos então Vingadores: Ultimato (2019) que conseguiu jogar a última pá de terra. Na tentativa de referenciar uma das versões mais inteligentes e fortes do Hulk, trouxeram o Professor Hulk do nada e com o nada ele continuou até o fim. Até então parecia que tinha um planejamento para chegar a essa conclusão de arco com mais uma das personalidades que compõem ele, mas acompanhando os filmes do MCU, tudo que temos do Hulk é muito pouco a ponto de qualquer coisa referente a sua história pessoal basicamente não existir ou ser incoerente.
Em Ultimato, usar a manopla do infinito não foi um indicativo de força exatamente, visto que o personagem ao invés de estar no ápice dos seus poderes, regrediu ao ponto de mesmo um dos melhores (senão o melhor) fator de cura já visto nos quadrinhos não servir para nada. Professor Hulk sequer nem chega perto de ser um coadjuvante na equipe na batalha final, sendo apenas mais um dos vários personagens que passaram, o que incluiu dele precisar até mesmo ser salvo pelo Homem-Formiga.
Ao término da Saga do Infinito, assim intitulado o compilado dos 10 anos de lançamentos dos filmes da Marvel Studios, Hulk não é lembrado por ser o favorito ou ter sido muito útil as histórias. A tentativa de colocá-lo como salvador usando a manopla é ofuscado por duas outras cenas muito mais elaboradas para outros personagens. Suas colaborações ao longo dos filmes foram tão esquecíveis, chegando ao ponto de ser um figurante na equipe ainda pior que o Clint Barton/Gavião Arqueiro.
Hulk apenas se sustenta em todo seu passado através dos quadrinhos, já que no cinema o personagem se torna o alívio cômico da equipe e nada mais do que isso. Relembrando toda essa história do personagem, parece não restar dúvida que o pingo de simpatia que ainda daria para ter com ele, é com a presença impecável de Ruffalo, que leva seu papel a sério e ama o personagem que o interpreta. Mas sendo uma pena que até hoje nenhum roteirista quis de fato levar a capacidade do ator a sério e o estúdio investir um tempo maior para contar alguma das suas histórias mais legais escritas.
Não somente legais, mas que aprofunda o personagem sendo muito mais do que um cara explosivo ou irracional, incapaz de exercer algum tipo de humanidade ou mostrar seus conflitos internos. Entende-se também, que a própria criação do Hulk nunca deverá voltar a tona nas telas, já que é claramente uma propaganda explosiva contra os militares americanos. E em outras produções, não é exatamente a imagem que vemos.
Mas ei que existe a tentativa da Marvel querer mudar a sua visão, trazendo novos diretores de filmes independentes para continuar suas histórias nessa nova fase, vale lembrar o MCU segue a risca todo um planejamento de filmes e eventos que podem não sair bem o que os fãs esperam.
A próxima produção do estúdio, está vindo com Eternos dia 5 de Novembro nos cinemas, e é dirigido por Chloé Zhao e um elenco magnífico. E anteriormente, o muito bem recebido com Shang-Chi, do diretor Destin Cretton e Viúva Negra, da diretora Cate Shortland.
Sou cinéfila e meu filme favorito é indie e pouco conhecido, ele se chama Barbie Fairytopia.