What If…? | O luto arrogante do Mago Supremo: Um coração dilacerado, um destino traçado
1 Setembro, 2021Artigo por Evelyn (@drstrangs)
A trágica história de horror que se encaixa perfeitamente na animação e eleva o pensamento do telespectador sobre morte e superação
O quarto episódio de ‘What If…?’, série animada da Marvel Studios, chegou ao Disney Plus nesta quarta-feira e veio carregado de angustia, luto e sofrimento. Com o retorno de Benedict Cumberbatch na voz do personagem, Stephen Strange prende a atenção do público com sua insistência e teimosia nessa aventura brilhantemente assustadora e reflexiva que expõe seu lado falho, o lado de um homem solitário que se põe à beira de qualquer abismo para salvar o amor de sua vida… “E se… o Doutor Estranho perdesse o coração, ao invés das mãos?”
A talentosa Rachel McAdams retona para dar voz a Christine Palmer, assim como Benedict Wong (Wong) e Tilda Swinton (Anciã). Quase tudo acontece como no filme de 2016 mas aqui a Dra. Palmer está no carro junto com o neurocirurgião no momento do acidente e se torna a vítima fatal. Isso é o que leva o arrogante Stephen Strange a procurar conhecimento nas artes místicas, tendo em mente que poderia ser uma alternativa para salvar sua amada — mesmo com os avisos da Anciã sobre o quão perigoso isso poderia ser para o universo.
Percebe-se que tiveram um carinho e cuidado especial em retratar essa história quando colocam o personagem em cenários deslumbrantes, nunca deixando de homenagear as artes místicas e a mitologia do Doutor Estranho nos mínimos detalhes - seja na linda selva retocada pelos raios de sol ou na Biblioteca de Cagliostro, que como uma grande fã do personagem, digo que foi a melhor escolha para a cena em que Strange se entrega a sombria e obsessiva vontade de fazer as coisas da sua maneira.
As formas horripilantes das entidades místicas e demoníacas que tomam conta do Mago Supremo são um presente para aqueles que conhecem e acompanham as histórias do Mestre das Artes Místicas, que por diversas vezes ao longo de 58 anos de quadrinhos enfrentou as piores criaturas. E, claro que Shuma-Gorath não poderia ficar de fora. O vilão que já apareceu no primeiro episódio de ‘What If…?’ retorna e até entra em um rápido embate com Stephen, mas acaba sendo sugado pelo mestre que se encontra numa tentativa de elevar os seus poderes.
O confronto entre as duas versões do Doutor Estranho é digno de todos os adjetivos possíveis. Sensacional, um espetáculo. O dilema que os dois enfrentam está sempre centrado na arrogância que eles dividem, pois é isso que o fez um médico, mas também que o tornou Mago Supremo, o protetor do universo. E, agora, ele coloca o destino de todos em risco em nome de algo que já não é mais amor, é egoísmo.
A performance de Benedict Cumberbatch é mais uma vez maravilhosa, no mínimo. O ator sabe como expressar os sentimentos de um homem tão machucado como Stephen nesse episódio, tem a maestria em transmitir a culpa que ele sente quando percebe que suas ações foram longe demais. Se o Mago se tornou tão popular nesses últimos poucos anos, Benedict tem um crédito nisso por dar seu melhor ao compreender o personagem. Assim como Fábio Azevedo, dublador brasileiro que transmite as mesmas emoções e características. Não há vozes melhores…
Ora, Stephen Strange ainda é humano, ainda sabe amar e também pode errar. No episódio ele não é mau, é apenas um homem que teve seu coração dilacerado por vezes em todas as suas tentativas de reverter seu destino, mesmo sendo um castigo necessário para o bem maior. Nos minutos finais, Christine se aterroriza com a faceta de um homem deformado pelo amor e pelo luto. Ele admite que o mundo não deve pagar pela sua arrogância num diálogo doloroso com o Vigia, que revela não poder interferir no que ele fez, mas que se pudesse, o puniria, como o próprio Mago Supremo implora. Punição… seria essa uma solução para um ser humano vítima do destino e refém do amor?
Se é esse o futuro do Doutor Estranho nos cinemas, então os fãs podem esperar algo espetacular. Sua adaptação no episódio não desliza ou escapa em algum momento de sua essência, carregando dos quadrinhos o que há de melhor do poderoso feiticeiro: sua capacidade de reconhecer seus erros, nunca se superando totalmente, mas tentando, enfrentando qualquer escuridão. É esse o terror e o Strange que queremos em Multiverso da Loucura, viu, dona Marvel?