Crítica | Manhãs de Setembro: Série nacional da Amazon aborda relações de uma forma sensível

Crítica | Manhãs de Setembro: Série nacional da Amazon aborda relações de uma forma sensível

29 Junho, 2021 0 Por Murilo Fagundes

Marcando sua estreia como protagonista, Liniker encarna Cassandra em uma ótima produção que promete e cumpre

Decidida a viver seu sonho de se tornar cantora, Cassandra (Liniker) sai de sua cidade no interior e embarca para capital paulista. Entre amores, lutas e relações, aos poucos ela vai encontrando seu espaço, mas sua vida muda de uma hora para outra quando Leide (Karine Telles), uma mulher do seu passado, surge e muda todo seu cotidiano.

Com uma narrativa instigante, Manhãs de Setembro promete desde o seu trailer que uma simplicidade e sensibilidade notável. Daí já se cria uma expectativa, afinal a Amazon tem apenas duas séries nacionais no seu catálogo até agora.

Um surpresa agradável cerca todo os seus cinco episódios, e a forma sensível com qual a produção trabalha deve ser elogiada, aqui temos uma narrativa densa, mas muito orgânica, dando uma sensação pura de naturalidade. As transições entre conflitos, conselhos e vida tem um fundo musical incrível, surpreende até quem já conhece o excelente trabalho de Liniker, uma das maiores artistas da sua geração.

A série consegue trabalhar vários núcleos com muita singularidade sem esquecer da sua mensagem principal, que é mostrar as relações afetivas e desmistificar aos poucos o que muitas pessoas tem como conceito de família. Porém é importante ressaltar que alguns personagens acabam caindo em alguns problemas de comodidade como no caso do Ivaldo (Thomas Aquino) que vive o namorado de Cassandra, personagem carismático, que tem como base crucial o apoio para a protagonista, mas as vezes fica por isso mesmo.

Reprodução: Amazon Prime Video

Sendo assim quando a série se permite a trabalhar o presente de Cassandra – mulher trans que tem sua vida mudada após o aparecimento de seu filho concebido antes da sua transição, conflitos são colocados, dando uma enorme profundidade para o roteiro.

Falar de Manhãs de Setembro é algo muito prazeroso e beira a poesia, toda a forma que sua narrativa conduz e com uma produção digna, faz com que esse prazer seja maior. Direção de arte e fotografia são cautelosas e artísticas, casando coerentemente com o que ela está disposta a transmitir.

As atuações são notáveis, destaque para a novata Liniker e a veterana Karine Telles, uma das atrizes mais talentosas do Cinema Nacional e o também novato Gustavo Coelho, criança responsável pelo papel de Gersinho, filho de Cassandra e Leide.

Manhãs de Setembro é uma obra completa: promissora, sensível e poética, ela sai da zona de conforto e te quebra para poder reconstruir de uma forma natural e muito bem-feita, mostrando que produções que buscam desmitificar e naturalizar as diferenças devem sim ocupar seu espaço.