Primeiras impressões | The Handmaid’s Tale – 4ª temporada: A trama da série está cada vez mais distante de um desfecho
3 Maio, 2021O Conto da Aia (finalmente) está de volta na sua quarta temporada. A série, para os novatos, trata de uma distopia sobre um futuro em que mulheres são tratadas como barriga de aluguel servindo ao Estado teocrático de Gilead, antes conhecido por Estados Unidos.
Por quatro temporadas seguidas, The Handmaid ‘s Tale continua tendo uma produção visual impecável e trilha sonora excelente. A série já venceu o Globo de Ouro, Emmy e tem um time impecável de atores que captam e entregam toda emoção em suas cenas.
A série fez por merecer todo sucesso em torno das suas vitórias em awards ao trazer o drama de Margaret Atwood de forma tão criativa e emocionante, a série foi vista como um marco diante de lutas feministas pela liberação do aborto, controle do corpo e liberdade no trabalho e na vida pessoal.
A fotografia e desenvolvimento impecável dos personagens e da história, fizeram da série um dos atos mais comentados da TV, repercutindo em toda mídia essas semelhanças com tópicos reais se fossem aplicados ao mundo atual. June Osborne é uma mulher progressista, e luta insistentemente para não aceitar a perda de direitos de toda sociedade, em especial as mulheres.
Apesar de não perder a qualidade visual, com suas cenas impactantes e atuações inesquecíveis, do outro lado o roteiro parece deixar bastante a desejar a partir da segunda temporada. O lento desenvolvimento da história e foco exclusivo em todo sofrimento sobre June pode incomodar, fazendo muito dos espectadores ainda assistirem a série ainda pelo carisma restante e apego aos personagens.
Entre a segunda e terceira temporada, a série pareceu elevar o nível de sofrimento e tortura dos personagens continuamente e muito brutal. Realmente era necessário que mulheres fossem expostas para que entendêssemos esse sofrimento, um porno violento e sangrento das cenas?
THT virou pauta entre grupos em que reagiam às diversas cenas explícitas de violência gratuita, o chamado “shock value” para ter atenção. Já que a série parou de desenvolver o desfecho de personagens e da história, e apostam mais em mortes inesperadas.
A quarta temporada retorna exatamente após os eventos da terceira, onde conseguiram enviar as quase 100 crianças de Gilead para o Canadá. Elisabeth Moss é sempre sem comentários; ela nunca deixa a desejar quando expressa suaa raiva, dor e paixão dentro da personagem, e agora temos um adendo especial, a participação da McKenna Grace no elenco. Certamente uma personagem que vai render ainda muitos comentários e repulsa. Principalmente por sua idade, que já carrega uma extensa carga emocional.
Com os três primeiros episódios liberados, esses já parecem muito diferentes das duas temporadas anteriores. Isso porque os episódios fogem desse sufoco de Gilead, e focam outra vez nas consequências de cada ato, inconsequente ou não, da sua personagem June. Mas ainda sim, o drama arrasta-se em círculos, sempre no mesmo ponto, é um show dela e somente dela e ela sempre volta ao mesmo lugar.
Sim, dramas podem parecer arrastados e exigir um pouco de paciência para compreensão dos sentimentos, mas isso não parece acontecer quando a série insere mais personagens, mais perdas e eleva o número de opressores contra a resistência. Conforme o tempo vai passando, alguns personagens quando parece que vão receber finalmente um castigo e desfecho para esses atos, e acaba simplesmente cansativo.
À altura do jogo, é impossível simplesmente que June permaneça viva, exceto pelo favoritismo. Outros personagens sempre vão sofrer as consequências que seriam pelos seus atos, indiretamente ou diretamente. E é isso que acontece, com todas as mulheres ao redor de June, enquanto ela não obedece, uma pilha de corpos deixada para trás, que pagam pelo preço de uma liberdade que fica cada vez mais distante.
Se por um lado tudo já deu errado, o outro lado caminha ainda mais lento quanto a revolução das Aias. June mais uma vez provoca o culto bizarro de Gilead, mas ainda assim o pontapé na derrubada do fascismo continua distante, ela perde mais aliados e ganha mais inimigos. O Canadá simplesmente continua de mãos atadas, sustentado apenas pela prisão de Fred e Serena, capturados fora do território e as denúncias prestadas contra eles. O que em breve também pode ser comprometido.
E a cada passo errado que June toma, eles ficam ainda mais perdidos, isso fica ainda mais evidente quando chegam os casos das crianças resgatadas de suas “famílias”, simplesmente entregues ao governo para adoção ou devolvidas às suas famílias. Insatisfação essa, demonstrada até pelos próprios personagens da série.
O processo criativo da história, parece totalmente perdido, uma vez que a série começa a focar exatamente nos seus atores entregando cenas individuais, cheia de emoção e comoventes, apostando sempre nos visuais deslumbrantes, para que essas se tornem novamente favoritas ao EMMY. THT Facilmente se encaixa num Thriller Psicológico, onde a tensão dos personagens e suas situações, tem muito que nos apavorar.
Nick e Tia Lydia são personagens que viraram uma incógnita perante a série. Nick por muitas vezes foi visto como um grande aliado na luta e também de June. Entretanto, nas duas últimas temporadas, ele colocou sua sobrevivência acima de tudo, mesmo que essa luta seja parte do desfecho de que homens são corruptos e maus.
Tia Lydia, no entanto, parece ter lapsos de bondade e também de medo sobre tudo que está acontecendo.
Dificilmente é uma personagem que venha ter um bom desfecho, ela está sempre no limite, assim como June. Ela continua vendo toda sua criação e esforço sendo moralmente “corrompidos” e ainda assim, a personagem nutre uma relação de maternidade com essas mulheres, a qual fica encarregada de todo preparo e pode nos dar um desfecho interessante nessa temporada.
É difícil saber o que pode vir à tona com esses dois, e mais os outros que vão surgindo e na história em geral. Especialmente por ainda termos o vislumbre de três episódios. Todos os personagens da série continuam cativantes, em especial por Janine que aos poucos começa a se reconectar com seu eu anterior, mas ainda assim com suas marcas que fazem dela uma das mais interessantes e resilientes.
Mas de certa forma, três episódios ainda são poucos para mostrar o que pode acontecer de verdade. Ainda é possível continuar a admirar a alta qualidade da produção, mas nada muito diferente da estética anterior. Se não tomar um rumo diferente, The Handmaid’s Tale simplesmente pode virar o terror das séries que começaram sendo aclamadas e tiveram finais extremamente porcos e foram/são detonadas. Sendo o caso das conhecidas Dexter, Game of Thrones e The Walking Dead.
The Handmaid’s Tale está disponível no GloboPlay, Uolplay e também exibidas nos canais Paramount+.
Sou cinéfila e meu filme favorito é indie e pouco conhecido, ele se chama Barbie Fairytopia.