Oscar 2021: A vitória de Chloé Zhao é inquestionável, mas a premiação não
26 Abril, 2021Chloé Zhao foi a vencedora em destaque no Oscar 2021 e levou o prêmio de Melhor Direção por Nomadland, o filme mais querido desta temporada de premiações.
Desde que a temporada foi aberta, Chloé Zhao ganhou quase todos os prêmios por sua direção do filme, fazendo com que as pessoas esperassem cada vez mais pelo seu grande triunfo que aconteceu na última edição do Oscar. Levando o tão cobiçado prêmio de direção para casa, a diretora também se tornou a primeira mulher asiática, e não branca, a levar o prêmio nessa categoria. A primeira mulher a ganhar o prêmio foi a diretora Kathyrn Bigwlow, em 2010, pelo filme The Hurt Locker. É claro que isso é um prato cheio para todos os sites e jornais colocarem em na primeira estampa que Chloé fez história na premiação, afinal o Oscar tem “apenas” 93 anos e durante todos eles parece que nunca pensaram em diversificar em uma das categorias principais da noite.
Eu não vou desmerecer o mérito de Chloé Zhao, ela de fato é uma diretora muito acima da média de Hollywood se levarmos em consideração que ela não só dirigiu, mas também roteirizou seus quatro longa metragens, além de ter dirigido e escrito alguns curtas independentes. Além disso, a vitória dela é mais do que significativa devido ao movimento #StopAsianHate, no qual as pessoas asiáticas estão lutando contra a xenofobia e racismo que estão sofrendo devido a pandemia da COVID-19, que teve origem na China. A questão aqui é que não dá pra achar normal que em todos esses anos a academia nem sequer deu o trabalho de apostar em pessoas que não sejam brancas para as grandes categorias da premiação.
Quando se olha os últimos 20 anos da premiação, focando nas categorias principais, é nítido o quão defasada são as indicações. Vou até ser generoso e passar um pequeno pano para a categoria de Melhor Ator, que possui mais atores negros e não estadunidenses indicados do que a categoria de Melhor Atriz, por exemplo, já que a única ganhadora negra de toda a premiação foi Halle Berry em 2002 por Monster. Não sei quem vai fazer essa conta, mas será que eles tem noção do quanto de pessoas não brancas que produzem no audiovisual todos os anos?
Desde 2002, apenas 12 mulheres negras foram indicadas na categoria de Melhor Atriz e nenhuma ganhou desde então. Nessa edição a atriz Yuh-Jung Youn ganhou o Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em Minari. Ela é a primeira atriz sul-coreana a ganhar o prêmio.
Nesta edição, por exemplo, Regina King não garantiu a sua indicação em Melhor Direção por One Night In Miami, a sua estreia como diretora. O filme estava sendo um dos mais cotados para ser indicado ao Oscar por diversos sites especializados e infelizmente essa indicação nunca chegou. Será tão surreal ter três diretoras na mesma categoria? Para a academia é impossível indicar duas mulheres não brancas? Já tiveram que engolir o trabalho exemplar da Chloe Zhao, então seria absurdo indicar a Regina King também? Quem sabe fica pra próxima…
Já é o quarto ano seguido que nenhum diretor estadunidense leva o Oscar na categoria de Melhor Direção e acredito que as mudanças podem ser feitas, mas sempre com atenção para elas, afinal são 93 anos de premiação e eles possuem uma dívida com a indústria cinematográfica em premiar pessoas não brancas que estão mudando o cinema no mundo. Faz tempo demais que esses diretores não possuem a visibilidade que merecem. A vitória de Chloe Zhao abre um leque de possibilidades para que a indústria cinematográfica comece a dar oportunidades para diretores não brancos produzirem mais filmes que realmente tenham um impacto para o cinema, mas não dá pra fechar os olhos e confiar que as coisas podem mudar, já que não é a primeira vez que isso acontece.
A mágoa que tenho é porque realmente pensei que aquela noite significaria que logo depois disso, outras mulheres de cor, mulheres negras, ficariam ao meu lado. Já se passaram 20 anos e ninguém fez isso, então sempre que chega a hora do Oscar, fico muito reflexiva e penso: ‘Bem, talvez este ano, talvez este ano.’ É de partir o coração que ninguém mais esteve lá.
Halle Berry
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.