Oscar 2021 | O Som do Silêncio: Uma das experiências mais lindas e tocantes do cinema atual

Oscar 2021 | O Som do Silêncio: Uma das experiências mais lindas e tocantes do cinema atual

23 Abril, 2021 0 Por Talita Lopes

O Som do Silêncio é uma experiência audiovisual que aborda tanto o significado do prazer de consumir arte, e de saber um dos reais significados do por quê a arte de fato existe.

Existem vários debates sobre o cinema, daqueles que envolvem sobre o que é cinema, arte e como ela deve ser passada em suas diferentes perspectivas e gêneros. Porém o importante é sabermos que em suas diversas facetas, cada um tem objetivo único de tocar o seu público. A depender do que você está à procura, claro.

Nesse contexto, O Som do Silêncio lembra o poder de fazer as pessoas sentirem algo, e se relacionarem com algo trazendo uma reflexão. E bom, parece que é esse um dos sentidos da nossa vida: sentir. O que você sente quando precisa se confrontar com uma nova realidade? Um novo sentimento? Uma nova emoção e experiência?

Aqui a narrativa estabelece uma conexão do personagem com o público e Darius Marder faz sua estreia brilhante na direção. Ele também fica responsável pelo roteiro do mesmo e leva 6 indicações ao Oscar 2021, com Riz Ahmed (Ruben) e Olivia Cooke (Lou) no elenco principal.

O filme narra a vida de um jovem baterista que muda totalmente quando percebe que está ficando surdo. As suas paixões estão em jogo nesse momento: como a música e a sua namorada. E ele já parece ser um cara com uma carga emocional bastante pesada de superação, sendo um ex-viciado e também deixando à mostra os seus pulsos cobertos de cicatrizes. Nesse drama, o som se encaixa exatamente na construção das sensações e alcance dos sentimentos entre o público e o personagem. A bateria e o baterista, são a energia vital para a música e para uma banda, e também na construção do ritmo da mesma. Se o baterista sai da sincronização, toda música e banda simplesmente perdem a sua sintonia, por isso este elemento não se encontra à toa.

O design de som é uma das últimas categorias lembradas da composição de um filme, mas no fim das contas é o componente essencial da construção do mesmo. Óbvio que a imagem é sempre a primeira a chamar nossa atenção, mas a imagem e o som juntas são elementos indissociáveis para uma experiência completa. Podemos lembrar dessas experiências sempre citando filmes de suspenses e terror, que trabalham esses dois elementos juntos. A percepção auditiva e visual é crucial para ligar esses elementos que são jogados em tela. São a partir dessas ligações que sentimos o medo, o pavor, a aflição ligados ao gênero de terror usado no exemplo. É a capacidade de reconhecer e compreender o que nos é mostrado. E esse é o primeiro contato do público com a mensagem do sentimento que o personagem deseja transmitir. A perda.

E é na perda que Ruben precisa lidar e nós também. A perda de algo que até então é essencial para sua vida e carreira. E é sobre esse ritmo que o filme transborda sua maior mensagem, sobre aceitação e adaptação da sua jornada. Quando em contato com o som nos shows vão diminuindo, o drama de Ruben passa a ser a mesma apreensão nossa. Ruben é direcionado a um tipo de grupo de reabilitação para surdos em seguida, e é nesse momento que a experiência desses contrastes sonoros toma outra proporção, nos dando o mesmo sentimento que o personagem passa.

Quando estamos acostumados a uma vida inteira a ter todos os sentidos trabalhando em conjunto, parece ser ainda mais difícil pensarmos em algum momento perde-los e ter que nos adaptar a viver de forma diferenciada. Como se nosso estilo de vida e identidade entrasse em colapso para nos adaptar e aprender a viver novamente, e isso pode ser assustador.

Sound of Metal (2019)

Uma jornada e tanto para diferentes pessoas. Assim como para Ruben, que em certos pontos do filme precisa externalizar esses sentimentos, de como ele não pode mais ouvir o mundo externo, mas de alguma maneira ele precisa ouvir o seu eu interior e se encontrar em um novo mundo, adiquirir e se adaptar a novas experiências

Os sons do ambientes e o silêncio dos diálogos tomam conta da tela, assim como a confusão dos sentimentos do próprio personagem começam a se misturar com as nossas. Nessa composição de alguns diálogos sem vozes, apenas com o som ambiente, e breves risadas, Darius faz o espectador refletir sobre a mesma sensação de isolamento que ele sente. Não é como se tivéssemos que perder a audição para entender o contexto, é mais como imergir nessa realidade bruta a qual não estávamos acostumados ou preparados para tal. É para mudar o modo em que nós mesmo ouvimos e sentimos as coisas daqui por diante. Inclusive a própria música. Elevar essa mensagem em diversos outros sentimentos pessoais e de pessoas ao redor, mas sem deixar de compreender o que Ruben passa. Onde agora precisa lidar com um punhado de emoções e sentimentos para seguir em frente.

Por fim, o filme faz uso das legendas abertas e acessíveis. Paul Raci no elenco, é um filho de pais surdos na vida real, e também é fluente em American Sign Language (ASL). O filme também lança algumas pessoas reais da comunidade surda, o que ajuda torna o filme ainda mais autêntico. Chelsea Lee, que interpreta Jenn e Jeremy Stone como o professor de ASL no programa comunitário de surdos de Joe.

Ahmed e Cooke brilham na tela, são autênticos e de uma química entre si, com atuação incrível. Principalmente de Ahmed, o primeiro ator mulçumano a receber uma indicação ao Oscar, e está em um dos seus melhores trabalhos. Assim como de fato faz jus a sua indicação como melhor ator.