Oscar 2021 | Judas e o Messias Negro: Filme aproveita de discurso potente para falar sobre racismo, poder e traição

Oscar 2021 | Judas e o Messias Negro: Filme aproveita de discurso potente para falar sobre racismo, poder e traição

22 Abril, 2021 0 Por Murilo Fagundes

O filme indicado a seis categorias no Oscar consegue abordar vários assuntos em uma narrativa instigante e com ótimas atuações.

Com roteiro e direção de Shaka King, o filme estrelado por Daniel kaluuya e Lakeith Stanfield vai contar a história de Bill O´Neal que se infiltrou no partido dos Panteras Negras nos anos 60, resultando na morte de um dos líderes mais famosos do partido Fred Hampton.

Com uma sinopse objetiva o longa traz diversas discussões em seu roteiro passando por política, racismo, direitos civis, relações de poder e traição. Shaka consegue trabalhar de forma grandiosas todos os aspectos sem se perder em suas questões e em sua mensagem principal. Logo no início nós somos contextualizados com a situação da época, anos 60, onde os Estados Unidos viviam um momento de instabilidade sociopolítica com a guerra do Vietnã a crescente dos movimentos civis (hippie e racial), morte de grandes líderes (como Malcolm X e Martin Luther King) onde a luta por direitos civis estava em pauta o tempo todo e dando início de forma quase documental, somos apresentados a narrativa principal do filme.

Shaka parece se aproveitar do conteúdo sociopolítico do filme para trazer ricos diálogos, colocando no roteiro uma oratória certeira casando diretamente com a mensagem passada. Ora recrutamento, ora motivação o personagem do Fred Hampton carrega a maioria desses diálogos, o que é óbvio levando em consideração a sua posição de líder do partido é quase que intuitivo pressupor que existe um poder no discurso do personagem, fazendo com que críticas a esse aspecto do filme seja no mínimo quanto questionáveis. Ainda assim o filme consegue trabalhar a relação de poder entre grupos distintos e o racismo por parte do FBI sem parecer apelativo, mas sim como peça fundamental para o desenrolar da história. 

A forma com que o roteiro trabalha os dois personagens centrais é instigante, ele não força uma relação instantânea mas deixa evidente a colocação de cada um na história, deixando a singularidade dos personagens visíveis e mostrando o Judas e o Messias todo tempo em evidência.

Geralmente filmes com grandes discursos tende a cair na linha do tédio quando não são bem interpretados, esse erro que aqui não existe, a escalação do elenco foi um grande acerto do filme e Daniel Kaluuya passa toda a voracidade do seu discurso, transformando em oratória revolucionária que te faz querer lutar instantaneamente a cada palavra que sai da sua boca. Mostrando uma força e fragilidade, ele encarna Fred Hampton de forma brilhante trabalhando vários lados de forma grandiosa. Lakeith também não decepciona, fazer Bill O´Nell carrega um grande grau de dificuldade e uma enorme carga emocional e ele entrega em todas as cenas, deixando o telespectador completamente preso a quem é o personagem ou seu crescimento e suas motivações.

Mesmo tendo eles como personagens centrais o filme consegue trabalhar alguns outros núcleos, mostrando não só a relação dentro do partido dos panteras, mas também as motivações racista do Governo e FBI, nos apresentando um esquema estrutural que a polícia usava para descredibilizar o movimento colocando Jesse Plemons em destaque no núcleo como peça fundamental. Dominique Fishback, que faz a personagem da Deborah Johnson, nos apresenta não só como parceira amorosa de Fred, mas representa uma admiradora da revolução e dos seus ideais, a atriz é a definição de coadjuvante na sua forma mais pura no enriquecimento da história e sua falta no Oscar é sim questionável.

A direção de arte é cuidadosa, nos dando uma ambientação fiel com uma caracterização precisa fazendo valer suas indicações ao Oscar e ajudando no engrandecimento do filme.

Judas e o Messias Negro com certeza foi uma das melhores surpresas da temporada, carrega uma mensagem poderosa passada em técnica incrível fazendo valer o motivo de chamarmos o cinema de arte.