Oscar 2021 | A Voz Suprema do Blues: O coração de Viola Davis e o legado de Chadwick Boseman
14 Abril, 2021Sendo um dos grandes lançamentos de 2020, A Voz Suprema do Blues é um grande destaque na temporada de premiações.
Dirigido por George C. Wolfe e escrito por Ruben Santigo-Hudson, o filme se passa em Chicago, Illinois, e acompanha a banda musical da cantora Ma Rainey (Viola Davis) durante uma sessão de gravação para o seu novo disco.
Quando anunciado, foi impossível não se animar devido ao elenco do filme contar com dois grandes nomes envolvidos: Viola e Chadwick Boseman. Não apenas isso, mas o diretor do filme é um dos dramaturgos mais conhecido nos Estados Unidos e é ganhador de cinco Tony Award, o prêmio mais importante do teatro. Apesar de ser um filme tradicional que fala sobre música, a história consegue fluir muito bem em diferentes aspectos de sua narrativa. Nos primeiros minutos temos um longo diálogo que envolve Levee (Chadwick Boseman), Cutler (Colman Domingo), Toledo (Glynn Turman) e Slow Drag (Michel Potts) que compõem a banda de Ma Rainey. Nesse diálogo a gente tem uma impressão muito incrível sobre o Levee, que é um trompetista que tem o sonho de ter uma banda própria e isso só se intensifica quando ele resolve fazer mudanças na banda mas é impedido pela própria Ma, que é quem manda em tudo.
É difícil definir o filme em uma coisa só porque o roteiro desenvolve muitas camadas para se discutir. O filme possui cenas ótimas e o mais legal é que ele se encaixa inteiramente em um período só, não tem virada de tempo nem nada do tipo. A atmosfera do filme é bem bonita, e o que mais chama atenção é o calor que tem no filme. Por se passar em Chicago eles não tiveram medo de exagerar no suor que fica no corpo do elenco, principalmente da Ma Rainey, que sempre esta bastante suada e com a maquiagem quase derretendo.
Nem preciso mencionar o quão fabuloso Chadwick Boseman é em cena. Ele carrega um personagem muito animado e com ótimas falas, falas essas que são bem escritas e que carrega a trama do personagem ao longo de todo o filme. É interessante ver como a direção faz com que a gente fique cativado e emocionado ao ver o personagem de Chadwick. Ele tem uma abordagem muito bonita sobre o que ele se tornou e como ele enxerga a sociedade formada por homens brancos devido a um acontecimento trágico em sua vida.
Viola Davis entrega um papel grandioso, e que faz com que o espectador sempre espere uma posição firme da sua personagem. Ma é uma das maiores cantoras de Blues do momento, mas isso não faz com que ela deixe com que produtores passem por cima dela. A personagem de Viola Davis transmite uma confiança muito extrema e é bastante durona, e isso é algo muito diferenciado porque ela também sabe lidar com homens brancos. Ela é uma mulher exigente que sabe como a indústria funciona e ela não aceita menos, por isso faz com que qualquer homem branco fique de joelhos pra ela, como o próprio Levee comenta.
Os outros personagens tem falar legais e ótimas atuações, mas acredito que um desperdício tenha sido o Toledo. Ele possui uma visão muito interessante sobre como os homens pretos devem se juntar para construir uma sociedade melhor, mas o filme deixa esse personagem de lado e também faz pouco caso com os demais. Ainda sobre os defeitos do filme, parece que eles quiseram focar muito nas atuações de Viola e Chadwick mas esqueceram de combinar os atores em cena. É estranho pensar que eles juntaram dois gigantes da atuação em um filme que tem uma narrativa legal, mas eles mal interagem e nem sequer tem um momento emocionante entre os dois.
Ainda assim, é injusto dizer que A Voz Suprema do Blues não entrega um filme completo: a produção traz uma narrativa muito importante que mescla a história da música nos Estados Unidos e também como isso afeta a vida desses personagens. Pra encerrar eu gostaria de dizer que esse filme já é um marco na carreira do Chadwick Boseman. É incrível ver o talento dele nas telas e ao mesmo tempo nos dá uma sensação de alegria de saber que tivemos a honra de presenciar a curta passagem de um ator excepcional e que vai ficar marcado não apenas por seu talento, mas pelo coração de um homem que contribuiu para a representatividade preta de Hollywood.
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.