Oscar 2021 | Meu Pai (The Father): Amor e Perda nas suas diferentes percepções
12 Abril, 2021The Father é um drama emotivo que nos deixa extremamente reflexivos e em constante apreensão sobre uma das fases mais delicadas e misteriosas da vida: Será que estamos prontos para lidar com as pessoas que amamos em sofrimento, e, também com as divergências que podem surgir em certos momentos?
Assistir uma pessoa querida, a qual nos ensinou tudo sobre a vida, perder todas as lembranças de quem você é ou o que eles significam para você, é um processo muito doloroso. Longo e muito mais difícil do que parece para todas as partes envolvidas. Eles agora vão depender de nossos cuidados, assim como dependemos deles ao nascer, e precisam constantemente se sentirem acolhidos, tendo um ambiente reconfortante até o fim de suas vidas.
O filme é baseado na peça Le Père de 2012, dirigida e co-escrita por Florian Zeller, onde acompanhamos a vida de Anthony (Anthony Hopkins), um homem idoso que começa a lidar com a perda de memória recorrente e a sua filha Anne (Olivia Colman), que tenta de todas as formas achar alguém para acompanhar o seu pai diariamente, sem que ele a rejeite nesse processo.
Anne faz o papel de filha de Anthony, e assim o filme começa com ela chegando ao apartamento, a procura do seu pai pelo, até o achar num escritório sentado a ouvir música clássica em seus fones de ouvido, e então começa questioná-lo sobre o que aconteceu a alguém que esteve com ele. Já aí nos damos conta rapidamente de que se trata de uma cuidadora a qual ele rejeitou, apresentou comportamento resistente a esses cuidados, e também resistente as preocupações da filha. Em primeiras impressões, temos uma ideia de um homem que pode cuidar de si mesmo, confiante e forte.
The Father inicialmente pode parecer um desses dramas feitos para fisgar a bancada do Oscar, mas ele vai além com seus diálogos intimistas, trazendo um espetáculo para as telas. É um filme sobre tempo, sobre realidade e de como é possível ou não, lidar com os aspectos da idade, da vida e o controle do nosso presente e futuro. O cenário transita em poucos locais diferentes, mas sempre está em diversas transformações para acompanhar a mente do personagem.
Sem muito esforço e nem precisamente um filme de longa duração, Hopkins resume toda a confusão, a inocência, frustração e o declínio do nosso ser acometido aos sintomas da demência. Ele nos dá uma das mais brilhantes atuações da sua carreira, com vários momentos entrar na pele do personagem e todas suas angústias. Ao focar em Anthony, o roteiro não se preocupa diretamente em cruzar uma linha com início, meio e um fim. Ao contrário, dá voltas e regride à medida que nossa confusão se confronta com seu o estado mental do personagem, pregando preças.
Zeller dá uma ideia genial de como é viver dentro da sua perspectiva enquanto os outros o assistem. Nesse ponto, o filme é genial e se diferencia de diversas outras produções do gênero. Não é um filme de terror, mas é assombroso a medida que nós mesmos como telespectadores, sentimos a fadiga dos cuidados, as dores dos personagens, e chegamos a compreensão dos sentimentos de ambas as partes.
Adentrar na mente de alguém, pode ser assustador. Para Sempre Alice é um grande exemplo desse tipo de filme, onde trás a visão pessoal do sofrimento da própria. Entretanto, quando o tópico é a idade, precisamos ter uma noção de que existe um sentimento mutuo de quem está lidando com o problema, e também de quem tem que segurar todas as pontas. E é nesse sentido que The Father tenta se destacar ao passar a sua mensagem.
Olivia Colman também tem o seu destaque, ela se coloca no lugar da pessoa que precisa escolher entre sua vida pessoal, trabalho e também a de filha preocupada sem saber como dar a melhor vida para o seu pai. Os olhares expressivos, carregam toda a emoção para as telas, principalmente nas escolhas a serem feitas. Assim como a alegre e contagiante Laura (Imogen Poots), sua cuidadora, qual está ciente de sua condição, e sabe como lidar com essas alterações. Anthony nem sempre sabe o que está acontecendo com ele e ao seu redor. Muito menos sabemos se é sua casa ou a casa da filha, e essa sensação do que é real ou não, torna o filme assustador do ponto de vista da doença. Frustrante e doloroso para quem já viveu ou conhece alguém nessa condição, dificilmente é um filme para ser assistido várias vezes, mas para os que assistirem, a mensagem será levada por muito tempo.
A direção e cinematografia é espantosamente fantástica, a atuação de ambos é sem defeitos e cativante. Volto a ressaltar, Hopkins nos dá uma das suas melhores atuações de toda sua carreira. Um filme onde todos os elementos são perfeitamente encaixados e coesos, e com certeza vai desencadear várias emoções. É assim que o filme discretamente mostra como diferentes pessoas vão lidar com perdas e com amor. É uma conversa íntima entre dois sentimentos distintos e que também tem muito paralelos. Com certeza o filme é merecedor das indicações ao Oscar.
Atenção:
“Demência é o termo utilizado para descrever os sintomas de um grupo alargado de doenças que causam um declínio progressivo no funcionamento da pessoa. É um termo abrangente que descreve a perda de memória, capacidade intelectual, raciocínio, competências sociais e alterações das reações emocionais normais.
Apesar da maioria das pessoas com demência ser idosa, é importante salientar que nem todas as pessoas idosas desenvolvem ela, e que esta não faz parte do processo de envelhecimento natural. A demência pode surgir em qualquer pessoa, mas é mais frequente a partir dos 65 anos. Em algumas situações pode ocorrer em pessoas com idades compreendidas entre os 40 e os 60 anos.” (Descrição por Associação Alzheimer Portugal)
Sou cinéfila e meu filme favorito é indie e pouco conhecido, ele se chama Barbie Fairytopia.