Oscar 2021 | A Concerto Is a Conversation: um curta muito maior que sua duração

Oscar 2021 | A Concerto Is a Conversation: um curta muito maior que sua duração

7 Abril, 2021 0 Por Murilo Fagundes

O que é um concerto? Curta de 13 minutos do New York Times, não entrega respostas cruas, mas uma conversa repleta de reflexões e análises sobre a vida, o racismo, noção de pertencimento e amor.

Quando se dá play em Concerto Is a Conversation, não vamos com a ideia de que um curta de duração tão pequena possa entregar uma análise tão grande e profunda sobre a vida. Feito de forma orgânica, quase teatral e poética, a mensagem do curta ecoa em sua cabeça a cada segundo de tela.

Tudo começa quando Horace Bowers, homem de 91 anos, pergunta ao seu neto Kris Bowers, “o que é um concerto?”. Bowers poderia responder de forma seca o significado quase literal da palavra, mas ao invés disso ele fala que um concerto e quando um solista e uma orquestra conversam entre si. A partir daí, se inicia uma longa e profunda conversa intimista sobre o seu avô, sua história, e sobre a vida. Todo o diálogo acontece um dia antes da estreia de For a Younger Self, de Kris Bowers em 2020.

A Concerto is a Conversation (2021) – Horace Bowers Sr.

Remetendo a escravidão, Horace conta como sua vida passou por mudanças e dificuldades até ele chegar onde está. Ele como nativo do sul dos Estados Unidos, conta como presenciou o racismo de perto desde o tratamento ao seu pai a sua ida para Los Angeles com vinte e sete dólares. O curta não é diretamente sobre racismo, mas ele está presente na narrativa, embora não como protagonista. Aqui o protagonista é o dialogo sobre as ações que o avô precisou tomar para que não só sua vida mudasse, mas a de sua geração subsequente: ele conta como tudo estava contra ele, conta sobre empréstimos negados, sobre sua empresa de lavagem a seco, e de sua ida de sem teto para empresário aos 20 anos. Mas não caia na armadilha de achar que esse é um diálogo sobre meritocracia, pois não é!

Em seguida, seu neto Kris Browes conta sua história com o piano. Kris carrega no seu currículo composições em filmes como Green Book e séries como Bridgerton e When They See Us, ele comenta que ainda assim se sente inseguro quanto ao seu local de pertencimento, pois sabemos que mundo é dominado por brancos e na arte não seria diferente, e mesmo estando em uma posição de sucesso e reconhecimento ele sente que não deveria estar lá. Sobre isso, seu avô responde de forma cirúrgica: “Nunca pense que você não deveria estar lá, porque você não estaria lá se não fosse seu dever”. A importância dessa frase é gigante, estamos falando de um homem negro de 91 anos nativo do sul, que mudou para Los Angeles decidido a estar em qualquer lugar que ele quisesse. Entendemos a frase do Kris, afinal, é realmente desanimador ver que se passaram tantos anos e pessoas brancas continuam sendo a maioria em posições do poder, mas também temos que lembrar o quão e importante ocupar seu espaço mesmo que com luta para que uma geração subsequente esteja lá com maior facilidade. Pode ser um pensamento utópico mas é um pensamento necessário para não cairmos num abismo de desânimo e conformação.

O documentário entrega uma enorme satisfação e talvez por Kris Browers entrar na direção ao lado de Bem Proudfoot, e na produção ao lado de Ava DuVernay, o curta entrega um diálogo intimista, sensível, orgânico e importante. Ele não só te faz pensar como também aquece seu coração, ainda entrega uma ótima técnica com planos e enquadramentos fechados, uma paleta de cor suave levando o azul e o amarelo, com fremes de imagens contemporâneas, arquivos pessoais, deixando a trilha sonora por conta de um piano leve durante todo tempo.

A Concerto Is a Conversation faz valer sua indicação ao Oscar de 2021, ele é muito maior que seus 13 minutos, ele é grande, grande de conteúdo, de história, de impacto e com certeza é um concerto para se ovacionar.

Assista o curta: