Oscar 2021 | ‘Pieces Of A Woman’ mostra um processo de luto demorado e doloroso
1 Abril, 2021Sendo um dos filmes que mais chamou atenção durante a temporada de premiações, Pieces Of A Woman traz uma questão muito íntima e aprofundada sobre um luto prematuro.
Dirigido por Kornél Mundruczó e produzido por Martin Scorsese, o filme acompanha a história de Martha (Vanessa Kirby), uma mulher que resolve ter filho em casa, porém, sua filha acaba falecendo no nascimento e acompanhamos um processo de luto de Martha e seu marido Sean (Shia Labeouf).
Já deixo claro que eu, o redator que escreveu essa crítica, não sou muito chegado a filmes desse gênero. Dificilmente eu vejo filmes de drama e que tenham uma narrativa mais pesada, mas confesso que Pieces Of A Woman me chamou atenção pela profundidade e intimidade que ele proporciona. Como já dito na sinopse, a história gira em torno de Martha e também de algumas figuras, como o seu marido Sean e sua mãe Elizabeth (Ellen Burstyn). Logo no início temos uma longa cena de 30 minutos que nos mostra o ponto principal da trama que é o parto de Martha. Devo dizer que de longe é uma das cenas mais agoniantes que se possa ver em um filme de drama, seja pela agonia de uma mulher prestes a dar a luz, como também um ambiente sufocante e desesperador.
Em algumas entrevistas, o diretor confirmou que a cena foi feita com um bebe recém-nascido de verdade, recusando bonecos ou CGI. Ele também diz que Vanessa Kirby passou semanas com uma gestante para poder se preparar para interpretar a sua personagem. É nítido o desempenho da atriz para trazer uma ótima performance, e isso Vanessa Kirby não deixa a desejar. Mas vou falar mais sobre ela ao longo deste texto.
Outro fato importante é que o filme é inspirado em uma peça de teatro do mesmo nome, por isso diversas cenas tem uma imersão profunda, principalmente a troca de cenários entre os cômodos de uma casa.
Pieces Of A Woman é um filme melancólico, a forma como é trabalhada o luto de Martha chega a ser um pouco diferente do que se espera. A todo momento ela está silenciosa, tentando de fato seguir a vida e restaurar os laços com Sean, mas também tendo que lidar com uma ação judicial na qual a família acusa e responsabiliza Eva Woodward (Molly Parker), a parteira, pela morte do bebê. Sean também sofre muito com a perda da filha, fazendo com que seu vício ao álcool retorne. Além disso, existe uma questão envolvendo Martha e Elizabeth, que soa como uma pressão muito forte e desconfortante, já que Elizabeth quer que Martha seja mais envolvida na ação judicial contra a parteira.
O filme passa uma enorme tristeza e agonia ao longo das próximas cenas. Vanessa Kirby entrega uma personagem muito honesta que nos mostra uma tristeza muito grande que aparece na forma de um vazio emocional contínuo e muito pessoal. Somente ela pode lidar com aquela situação, afinal, estamos falando de um processo de luto que envolve um bebê que faleceu no parto. A profundidade da personagem Martha faz o filme se tornar muito maior, porque também sentimos a fragilidade e intimidade da protagonista com esse bebê, algo tão profundo que emociona qualquer um que venha a assistir. Kata Wéber, roteirista do filme, se baseou no roteiro usando a sua experiência pessoal com o seu marido Kornél, o diretor do filme. Apesar de ter algumas partes ficcionais, Kata relata o seu processo de luto após um aborto espontâneo, que ela descreve como uma experiência onde ela teve que buscar muita ajuda psicológica para lidar com o trauma.
Pieces Of A Woman é um filme simples mas muito íntimo, acho que eu nunca tinha visto um filme que soubesse representar tão bem a tristeza absoluta de uma pessoa. Chega a ser agoniante a forma que Martha tem que lidar com essa situação porque nos sentimos sufocados em ver a personagem tendo que encarar diversas coisas ao mesmo tempo, principalmente com uma pressão muito forte da família e também de seu parceiro, tudo isso enquanto passa por seu processo de luto.
Ter o “Pieces” (“pedaços”, em português) no título não é à toa. De fato, assistimos Martha juntar os pedaços de uma mulher que foi quebrada após a morte da sua filha, reconstruindo-se nas diversas facetas de si mesma para que possa representar os muitos papéis que desempenha em sua vida, seja como filha, esposa ou mãe.
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.