Crítica | Malcolm & Marie: Filme te ganha por ótimos monólogos, mas desliza em uma narrativa quase pedante
8 Fevereiro, 2021Estreando no catálogo da Netflix no dia 05 de fevereiro o longa, Malcolm & Marie mostra como Sam Levinson pode se tornar um dos grandes diretores do cinema por contar narrativas humanas de uma forma bonita e minimalista. O diretor conhecido popularmente por Euphoria decidiu contar em seu filme, uma história sobre amor -como o mesmo cita- de uma forma minimalista, em uma locação e com apenas dois personagens.
As expectativas eram grandes, afinal o filme não surgiu de uma forma convencional como a maioria das produções hollywoodianas, foi gravado em menos de dois meses de forma secreta no meio da pandemia do COVID-19 seguindo um rigoroso protocolo de segurança, entregando uma obra simples visualmente, mas que usa do seu roteiro como principal forma de te prender no filme.
O longa vai contar a história de Malcolm (Jhon David Washington) um diretor que chega da estreia de seu filme e tenta lidar com a recepção dos críticos e as percepções sobre sua obra e Marie (Zendaya) sua mulher que se ver insatisfeita por não ser agradecida não só por ser sua parceira, mas principalmente por ser uma das principais inspirações da protagonista.
O filme trabalha a discursão de forma inteligente, primeiro constrói-se o tom dos personagens, uma visão quase narcisista de Malcolm, um diretor preocupado, mas ciente de sua obra e com um ego quase alto e personalidade forte e Marie, personagem de personalidade igualmente forte que carrega o peso de um passado, mas consciente da mulher que se tornou. O embate é certo, temos duas pessoas com opiniões fortes e argumentos incisivos que se sentem pressionados a ao decorrer dos discursões trocar acusações e frustrações partindo de um ponto e chegando em outro ou em nenhum.
Com certeza o filme se destaca por seus monólogos longos e extremamente inteligentes, diálogos bem construídos e interessantes prendendo quem está assistindo em um drama que você acabou de chegar, mas se sente preso. Sam Levinson transita a discussão de um ponto que pode gerar um turbilhão de emoções com palavras agressivas de um fim quase trágico a situações que não levam a nada o que é interessante no início, mas se torna pedante ao decorrer do filme. O filme peca por repetir esse artificio várias vezes, exemplo: o casal discute fazem as pazes e voltam a discutir, okay usar uma ou duas vezes, mas usar repetitivamente quebrando muitas vezes o clima do filme e dando uma sensação de “puts de novo?”.
Talvez esse seja o motivo do filme dividir tantas opiniões não só da crítica quanto do público o que e interessante e até mesmo instigante.
A direção é coesa e segue seu objetivo, aqui estamos falando de um ambiente, a casa com dois personagens então planos fechados e planos sequencias são comuns e precisos. Seguindo a tensão do casal mesmo quando fora da casa, trabalhando o sentimento, o som os cortes (muito bem colocados como no início, na cena em que Marie prepara um macarrão) dando espaço para todos os elementos do filme trabalharem juntos desde sua fotografia a sua trilha sonora, tudo isso no preto e branco, dando uma singularidade ao filme.
As atuações são ótimas e esse é um ponto importante, afinal são apenas dois atores contracenando em um papel não muito fácil que transita do amor ao ódio em questão de segundos. A química é visível e você tem o romantismo e a tensão de um casal bem trabalhado pela dupla. Jhon David Washington consegue se colocar como um cineasta narcisista que de fato ama o cinema ironiza os críticos e beirando a histeria e o egoísmo e Zendaya que prova mais uma vez por que é uma das atrizes mais promissoras dos últimos tempos que entrega uma personagem jovem, mas madura com uma bagagem de vida grande com pontos necessários e um quase auto afogamento de sensações e frustrações. Eles são bem dirigidos em todas as cenas seja nas falas, gestos e ações.
Por fim Malcolm & Marie se torna uma linda história sobre amor, mas principalmente sobre o drama dele.
Apaixonado por cinema, cerveja e cultura POP. Negro e defensor do cinema nacional