Crítica | ‘The Boys’ 2ª temporada — Com trama coesa e grandes reviravoltas, a série se mantém mais do que firme
9 Outubro, 2020Sendo uma das séries mais comentadas do ano, a segunda temporada de The Boys continua chamando atenção do público e prendendo até o último segundo.
A primeira coisa que se deve notar nessa segunda temporada é como a história ficou melhor. Para ser bem honesto, a série cresceu muito mais em relação a primeira temporada. Embora esteja apenas começando, percebe-se que os personagens têm ganhado mais destaque e também mais profundidade, fazendo com que o público conheça mais as suas histórias.
No início desta temporada, Billy Bruto (Karl Urban) está desaparecido, enquanto a equipe formada por Hughie (Jack Quaid), Kimiko (Karen Fukuhara), Leitinho (Laz Alonso) e Francês (Tomer Kapon) tentam achar maneiras de destruir a Vought após descobrirem que eles estão criando super-terroristas para tentar pôr os Sete nas forças armadas.
Logo nos primeiros episódios, podemos perceber que essa temporada resolveu dar mais importância para os seus personagens, aqui temos um desenvolvimento da Kimiko em relação ao seu irmão, a relação do Francês com o seu erro do passado e também um pouco sobre a história da Maeve (Dominique McElligot). Todos esses enredos mostram que esses personagens precisavam se curar, seja por algum trauma ou erro do passado. O maior acerto dessas relações foi explicar que esses personagens possuem suas histórias cruzadas, e que todos ali estão apenas por um propósito: f*der com a Vought.
Como nos episódios finais da primeira temporada, vemos Luz-Estrela (Erin Moriarty) se rebelando contra a Vought e se unindo ao Hughie. Ela consegue ser mais inteligente nessa temporada e grande parte das coisas que ela fez ajudou a equipe a desmascarar a Vought. É legal ver como a personagem tem um bom desenvolvimento porque ela acaba se tornando uma das mocinhas, o que é engraçado, porque ela consegue se equilibrar tanto como uma traidora nos Sete como uma “heroína” para Hughie e seus amigos.
Sobre o Billy Bruto, ainda temos uma questão envolvendo o final da primeira temporada, onde ele descobre que a Becca (Shanel VanSanten) está viva e que ela tem um filho com o Capitão Pátria. Ao longo da temporada, vimos vários estágios do personagem, seja o momento de choque, ele sendo totalmente estúpido com os seus parceiros e até mesmo tendo momentos sensíveis com a Becca. Se o Billy era um personagem misterioso, nessa temporada vimos como ele se tornou uma pessoa tão fria por causa do seu pai e do ocorreu com a Becca. Billy é muito imprevisível, ele é movido por ódio mas também traz bons momentos quando ele começa a se abrir e confiar mais em seus parceiros, dando a ele uma pequena rendição e cumplicidade para com os seus.
Do lado dos Sete, o Capitão Pátria (Antony Starr) tenta criar um laço com o seu filho, tentando desesperadamente ter alguém do seu lado. Acredito que esse enredo tenha sido muito importante já que o personagem não tinha mais ninguém para alimentar o seu ego, como a Madelyn Stillwell fazia. Ele quer que seu filho seja como ele, e que de alguma forma ele tenha uma vida diferente da que ele teve. Por outro lado, também também temos que lidar com a dor de Becca ao ver o Capitão Pátria querendo criar laços com a criança. Como eu citei, Maeve tem um destaque que é muito interessante quando a gente para para pensar que de todos ali ela é a “menos pior”, quando ela revela um relacionamento com outra mulher que pode pôr a vida da sua amada em risco perante ao Capitão Pátria que é extremamente controlador e nojento. Ainda sobre a Maeve, a gente consegue entender que ela tem dores que precisam se curar, e mesmo assim ainda se vê forçada a aguentar toda a merda que envolve a Vought, incluindo uma propaganda forçada sobre o seu relacionamento.
Tivemos a presença de Tempesta (Aya Cash), uma personagem-chave para a temporada que conseguiu elevar ainda mais a podridão por trás dos supers. Além de ser nazista, Tempesta quer construir um império com o Capitão Pátria e criar uma “nova raça superior”. A introdução da personagem foi bastante importante para a narrativa do Capitão Pátria, já que ele necessita de atenção e quer que as pessoas se curvem pra ele. Tempesta representa o que tem de pior no mundo, e em diversos momentos ela tem falas e posicionamentos horríveis que infelizmente vemos por ai.
Por outro lado, personagens como Profundo (Chace Crawford) e Trem-Bala (Jessie Usher) não tiveram tanto peso na história. O arco do Profundo de tentar voltar para os Sete, assim como o do Trem-Bala, que também foi dispensado da equipe, é bem arrastado e um tanto cansativo, diferente da primeira temporada na qual eles foram bem importantes, em especial o Trem-Bala.
De forma geral, a série consegue entregar aquilo que o espectador espera, mas ao mesmo tempo, se atropela um pouco no roteiro. Os eventos acontecem muito rápido, sempre um por cima do outro, sem dar muito tempo para que a audiência absorva o que está acontecendo, o que seria essencial em uma série com tantos segredos e reviravoltas como essa. Em alguns momentos o roteiro chega a ficar meio truncado, tornando difícil acompanhar os acontecimentos, consequências e motivações dos personagens, que mudam muito rapidamente. Falta alguns momentos de respiro, algumas cenas ou falas explicativas para que o público consiga absorver de que forma o que está sendo apresentado afeta os personagens, suas ações e o contexto.
Enquanto algumas coisas acontecem muito rápido, outras vão muito devagar. Para quem leu os quadrinhos sabe que a história é muito complexa e que às vezes um pouco massante, e por mais que eles estejam conseguindo levar o enredo a frente, às vezes a história dá uma empacada, como é o caso dos arcos do Profundo e do Trem-Bala mencionados anteriormente. No geral, acredito que eles devem melhorar nas próximas temporadas, não é algo que incomoda tanto porque eles já tem um enorme trabalho em ter que fazer um balanço em relação aos quadrinhos, e mesmo assim, eles conseguem entregar um trabalho bastante satisfatório. Ajuda ainda o fato da premissa da série ser incrível, além do timing perfeito para sua produção e lançamento.
Com uma produção e elenco excelente, The Boys segue chocando e mostrando até onde os supers são capazes de chegar, o que é, ironicamente, o lado mais humano desses personagens que são tão próximos de nós quanto de deuses e heróis lendários. Ou pelo menos, do nosso pior lado. É incrível ver como eles colocam detalhes sutis que fazem uma referência direta a nossa realidade, mostrando que quem possui o poder pode fazer tudo, seja com propaganda anti-democrática, nazista, enganando a população e passando por cima de tudo e todos para se manter no topo.
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.