‘Visão. Pouco pior que um homem’ — A busca pelo normal e uma tragédia anunciada
27 Maio, 2020Escrita por Tom king em 2016, o arco do visão (Visão. Pouco pior que um homem) faz parte do rebuth All-New, All-Diferent Marvel e vai contar a jornada do Sintezoide em busca de ser o mais normal possível, e a procura dessa “normalidade” ele acaba saindo um pouco da bagunça dos vingadores e criando uma família de Sintezoides se mudando para um bairro comum em Washington, capital. Com uma premissa simples eu arriscaria chamar de desinteressante se algo não fizesse parte do enredo: uma família de robôs em busca da normalidade!
Logo nas primeiras páginas, a família recém chagada ao bairro recebe uma visita de um casal onde um dos personagens acha fora do normal, ou como colocado pelo próprio: “antinatural” robôs fazerem robôs se mostrando exitante quanto ao novo, mas afinal o que é normal?
Entende-se por normal algo que segue a norma, uma regra o comum, com isso a tentativa do visão de se “tornar normal” seria frustrada, uma vez que sua composição biológica foge dos padrões comuns? Todas as edições do quadrinho segue em uma narrativa inteligente muito bem escrita por Tom King apresentada por um narrador onipresente –aquele que tudo sabe– e soltando breves spoilers de uma tragédia que estava prestes a chegar, essa estratégia deixa a leitura mais instigante porém não é a única coisa que faz com que o quadrinho seja tão interessante, com certeza o conteúdo, as analogias e referências deixa a obra necessária e essencial!
Experimentando da tragédia shakespeariana com citações diretas á peça “O Mercador de Veneza” você já tem breves pinceladas do desenrolar da história e o rumo que ela vai te levar. Em seus primeiros volumes o quadrinho deixa uma grande reflexão sobre o conceito de família, proteção e a ligação entre estes dois conceitos, boa parte dessa narrativa fica mais explícita na personagem da Virginia como mãe, assumindo um papel como cuidadora e protetora em tempo integral de toda a família, levando a situações que coloque em dúvida sua própria programação e deixando a personagem consequentemente mais humanizada.
O mais curioso ao fim dessa edição é o quanto ele se propõe a discutir conceitos tão reais de uma forma tão orgânica e que te obrigue a pensar, deixando questões que o quadrinho se propõe a responder mas deixa livre pro público tirar conclusões.
A parte estética do quadrinho também não fica para trás, os traços e as cores muito bem desenhado e colorido por Gabriel Hernandez Walta e Jordie Bellaire dando leveza e drama quando necessário mostrando a importância das cores e seus contrastes como agentes importantes na compreensão de uma obra.
No final de tudo a HQ se torna uma das mais harmônicas e interessantes da Marvel, mostrando que todo seu barulho feito pelo público e crítica tem sentido e o mais importante: falar sobre a filosofia humano e seus conceitos rendendo um ótima leitura.
“visão, pouco pior que um homem” abre um leque de perguntas e conceitos construídos na sociedade, é sair de um certo conforto quanto a significados e experimentar a tragédia do novo.
Apaixonado por cinema, cerveja e cultura POP. Negro e defensor do cinema nacional