‘Papa-Capim: Noite Branca’ uma analogia necessária!

‘Papa-Capim: Noite Branca’ uma analogia necessária!

6 Março, 2020 0 Por Murilo Fagundes

“Sou fascinado pela cultura indigena brasileira Pelas suas lendas, Nos seus costumes e seus valores. Pensando nisso, criei Papa-Capim, lá no começo dos anos 1960. Desde então, Indiozinho Viveu muitas histórias em que valorizou a natureza, se divertiu com seus amigos questionou o homem branco e correu um perigo aqui ou ali, Sempre com um tom mais puxado para o humor e a reflexão, marcas do nosso trabalho nos quadrinhos.”

Com uma breve descrição do personagem e sua criação, Maurício de Souza da início a  Papa-Capim: Noite Branca, HQ do selo Graphic MSP de 2916 escrita por Marcela Godoy com arte de Renato Guedes que mostra outro lado do personagem saindo do humor para um tom mais do terror, mas sem esquecer de sua essência cultural em uma jornada simbólica de crescimento e conhecimento.

A HQ vai contar a história de Papa-Capim diante de uma ameaça que coloca em risco sua aldeia e as pessoas que ele ama, colocando-o na posição de guerreiro e salvador. Premissa simples como várias histórias de heróis mas aqui há um grande diferencial: a exaltação da natureza e crítica ao homem branco.

Papa-Capim carrega em sua trajetória de criação sempre a sua ligação com a natureza e questionamento ao homem branco, aqui não seria diferente afinal é uma característica única e importante do personagem, levar essas características para um enredo de terror com elementos culturais foi uma excelente idéia de como narrativas como essa são divertidas e necessárias.

Aqui, Marcela Godoy deixa bem clara a importância do personagem, seu dever como guerreiro e principalmente uma reflexão sobre crescimento e renovação. Com um cenário onde a natureza é personagem essencial para a história ela escreve a importância da conexão e respeito do indígena com sua cultura da forma mais orgânica possível.

Outra característica importante é sua analogia do grande vilão: o Noite Branca, uma referência ao homem branco onde em uma explicação mais que didático ela deixa claro: “certa noite, o mar trouxe uma embarcação como eles nunca tinham visto. Era tão grande como… cobra-grande!

Havia um único homem nela. Não era um homem comum, em seu sangue corria um grande mal, um mal tão antigo quanto o próprio mundo.

Ele não tolerava a luz do dia era muito forte. Tinha poder sobre as mentes dos homens e muita, muita sede de sangue, atacava a aldeia todas as noites para se alimentar dos irmãos.”

Reprodução: Panini

Referência claro a história da colonização e exploração indígena onde ela deixa mais explícito na última página com uma citação real de um indígena mostrando o medo da chegada do desconhecido a sua terra. Outro elemento significativo é a ligação do herói com a natureza como ponto fraco do vilão mostrando o quanto o homem branco a teme quase como se fosse impossível viver em conexão com ela tentando sempre destruí-la.

Reprodução: Panini

Talvez o ponto fraco dessa história seja o gosto de “quero mais” que ela deixa com uma narrativa um pouco corrida e pouca exploração dos elementos aterrorizantes, principalmente no seu desfecho ficando tudo muito rápido dando uma leve quebra de expectativa, não estraga a leitura por mais que te deixe um pouquinho decepcionado.

A arte ficou por conta da Renato Guedes e não decepciona, com cores vivas e traços simbólicos funciona com um bela pintura natural, elementos mais escuros e fortes quando necessários é uma característica de sua ilustração.

Papa-Capim: Noite Branca é uma ótima leitura, essencial, viva e didática, leitura obrigatória e reflexiva que vale muito apena ser lida!