Precisamos urgentemente falar sobre ‘Sócrates’
3 Fevereiro, 2020Sócrates é um filme que retrata a vida de um garoto que após perder sua mãe, cai em um desespero profundo e é negado por todos.
A gente vive batendo na tecla de como a maioria das filmes norte-americanos que são LGBTQ pecam em diversos quesitos, seja por estereótipos péssimos, ou enredos previsíveis. Sócrates mostra que além de ser um filme com um personagem LGBT, ele mostra como a sociedade é cruel seja você negro, pobre ou LGBT. Mas imagina quando você preenche toda essa tabela?
Sócrates fala exatamente sobre isso, ele é um puro retratado de um gay preto e favelado, que passa luta para sobreviver e passa por vários processos que são vistos na nossa sociedade, passando por rejeição em relacionamento e claro, homofobia. Sempre é apontado o quanto ser LGBT no Brasil é algo muito difícil e dolorido principalmente quando você não tem estrutura familiar ou um nível moderado de padrão social para que te torne menos alvo da marginalização que é imposta. O filme deixa muito claro que a ideia é mostrar a vida de um jovem sem condições nenhuma, uma pessoa que fica sozinha e sem para onde ir.
No relacionamento não poderia ser diferente, sabemos que existe uma grande parcela de pessoas que não são “assumidas” os famosos “sigilosos” como a internet conhece, que por diversas questões têm medo de se assumir para o mundo e que não estão preparados para isso devido a uma grande pressão. Quando Sócrates (Christian Malheiros) conhece Maicon (Tales Ordakji) nos deparamos com dois homens que caem no estereótipo de homens valentões que sempre é voltado para homens héteros, quanto mais “macho” você for, mais hétero você é. Em seguida isso é quebrado, quando é mostrado Sócrates sendo um garoto comum, às vezes nem impondo essa valentia que é retratada para mostrar a diferença entre um homem e um homossexual, quem nunca ouviu pessoas falando para “agir como um homem” ou “seja homem” para homens gays? Além disso, Sócrates é totalmente rejeitado por Maicon quando ele percebe que estar com Sócrates valia algum tipo de preço, e esse preço é a homofobia. Maicon também é um jovem que não é assumido e é nítida a frustração dele em relação a isso.
O filme também tem uma curta passagem pela prostituição que infelizmente, acaba sendo o único modo de sobreviver já que segundo pesquisas, 90% das travestis e transsexuais sobrevivem da prostituição, uma porcentagem absurda de desigualdade.
A religião também tem um peso na história a partir do momento que é questionado que ele precisa ir a igreja e “tomar jeito” na vida. Sabemos que a relação da igreja com pessoas LGBT é bem complicada e a rejeição alta que é. Muitas vezes, a fala ‘Deus ama todos” é deixada de lado, e o conservadorismo toma conta de tudo, tendo como grande pilar a religião evangélica.
O arco-íris invade céu – Uol Tab
O relacionamento com o seu pai é complicado, eles não convivem juntos e da a entender que é por causa da homofobia. Uma cena bem triste é quando Sócrates (após diversas tentativas de sobreviver) pede um prato de comida para o seu pai e é agredido e chutado como cachorro, fazendo com que Sócrates tenha que comer lixo na rua. O filme mostra de uma forma muito dura essa situação que chega a dar um enorme gatilho e desconforto por retratar algo tão desumano, e é bizarro pensar que vivemos em uma sociedade onde o próprio pai nega o filho. Estamos cansados de ver em noticiários quantas vezes jovens LGBT são mortos pelos próprios pais e é difícil pensar como as nossas vidas estão em jogo todos os dias, mortos dentro e fora de casa.
Como eu já disse várias vezes, o filme é um retrato da vivência do LGBT vulnerável, o pobre, o negro e que não tem uma base familiar. Infelizmente, isso não é algo anormal porque simplesmente estamos expostos a uma sociedade homofóbica, onde é difícil ganharmos aceitação e sempre somos marginalizados e que somos destinados a viver sozinhos e enfrentar o mundo duas vezes, se provar cada vez mais e ter o dobro de cuidado possível. Apesar do filme retratar sobre perda e solidão, ele é uma grande aula de como o mundo precisa de mais empatia, de mais respeito, é uma prova de que existem pessoas que precisam e devem ser ajudadas, é o retrato de que as pessoas LGBT precisam ser acolhidas, precisam serem vistas e principalmente, de amor.
Sócrates é dirigido por Alex Moratto e teve sua estreia nos cinemas em Setembro de 2019
Spin Off: Christian Malheiros é um mega ator e merece todo o reconhecimento do mundo
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.