BAFTA 2020: Porquê tão branco?

BAFTA 2020: Porquê tão branco?

7 Janeiro, 2020 0 Por Murilo Fagundes

Hoje, dia 07 de janeiro 2020, a Academia Britânica de artes do cinema e televisão (BAFTA) revelou os indicados da 73ª cerimônia da premiação considerada o Oscar britânico. Dentre essas indicações surgiu uma grande polemica em relação aos indicados e a diversidade, na verdade, a falta dela, afinal dos 18 atores e atrizes indicados todos são brancos.

Logo após a divulgação da lista dos indicados, o presidente do comitê BAFTA, soltou uma nota a qual falava sobre a falta de diversidade na cerimônia: “gostaríamos que houvesse mais diversidade nas indicações, mas isso continua sendo um problema da indústria como um todo, e nos continuaremos trabalhando em nossas iniciativas, vamos continuar a encorajar, inspirar e tentar ajudar as pessoas.”

De fato a indústria de Hollywood é racista, porém é inegável que houve performances de grande destaque que foram completamente esnobadas e trocadas por outras que são no mínimo duvidosas.

‘Parasita’, um dos filmes mais aclamados de 2019 e segue como grande aposta para o Oscar 2020.

Esse não é um problema novo, afinal em 2015 aconteceu algo parecido no Oscar onde em todas as categorias principais todos os indicados eram brancos. Com varias manifestações, boicotes e notas Hollywood veio tentando mascarar o seu racismo promovendo uma vez ou outra algum filme com minorias.

Assim, culpar somente a indústria é um grande “erro” afinal a quantidade de atrizes coadjuvantes era tão baixa a ponto de a Margot Robbie ter duas indicações, uma por seu papel em (o Escândalo) e outra por (Era uma vez… em Hollywood) sendo sua participação no segundo tanto quanto esquecível deixando sua indicação mais duvidosa ainda em um ano com performances como a de Jennifer Lopez (As Golpistas) Ana de Armas (Entre facas e Segredos) e Zhao Shuzhen (The Farewell).

Jennifer Lopez em ‘Hustlers’. J-Lo foi apontada como uma das grandes apostas na corrida de premiação de 2020.

Ver 1917 com indicação em cabelo e maquiagem em um filme de guerra em e na mesma categoria não ver Meu Nome é Dolimite com seu trabalho impecável de ambientação com cabelo, figurino e maquiagem é um ultraje.

E essa não é a única categoria que deixa todo o racismo da premiação em evidencia, pois sabemos que esses anos diversos filmes como The Farewell, Dor e Gloria, Us, Harriet com baixo ou zero reconhecimento e até mesmo Parasite, o filme mais premiado da temporada que recebeu apenas 4 indicações. Outro exemplo claro é a falta de Lupita Nyongo na categoria de melhor atriz afinal ela entregou o melhor e mais premiado desempenho do ano com seu papel em Us, mas também foi esnobada na premiação, pode até alegar que o BAFTA é voltado a produções britânicas, porém até mesmo a Cynthia Erivo (Harriet) ficou de fora mesmo sendo britânica.

Lupita Nyongo em ‘US’. A atriz ganhou (até agora) 22 prêmios por sua atuação no filme de terror.

A verdade é que os grandes estúdios hollywoodianos estão ficando cada vez mais cansativos, baseando-se em remakes, cinebiografias e enredos clichês, é notório que pequenas produções e filmes estrangeiros mesmo com tudo que os impedem estão tomando reconhecimento e talvez seja difícil para Hollywood e os grandes sindicatos aceitarem que as melhores performances do ano são asiáticas, africanas e latinas que conseguem ser flexíveis e notáveis fugindo do clichê inglês estadunidense.

A indústria é realmente a única grande culpada? Afinal do que adianta ter filmes com tamanha repercussão dentro de festivais, critica e publico, mas serem esnobados em grandes premiações? Como isso vai ajudar em produções com minorias se quando elas existem são ignoradas? Com isso fica cada vez mais claro que é um problema tanto da indústria quanto dos sindicatos.

O BAFTA de 2020 nos faz lembrar que infelizmente essa “moda de representatividade” é sim passageira e momentânea quanto mais o tempo passa não importa o quanto cinema representativo se esforce ele sempre vai ser a cota e às vezes nem isso!