Documentário | “Fico te devendo uma carta sobre o Brasil” selecionado para o IDFA – Festival Internacional de Documentários de Amsterdã
23 Outubro, 2019O documentário “Fico te devendo uma carta sobre o Brasil” será o representante brasileiro da 32ª edição do IDFA – Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, o maior festival do mundo dedicado ao gênero. O anúncio dos selecionados para as mostras competitivas foi feito nesta quarta-feira, 23 de outubro, e o evento acontece entre os dias 20 de novembro e 1º de dezembro, em Amsterdã (Holanda). “Fico te devendo uma carta sobre o Brasil”, produzido pela Daza Filmes, com coprodução Canal Brasil, VideoFilmes e Muiraquitã Filmes terá exibições nos dias 24/11, 26/11, 28/11 e 30/11, e concorre na categoria “Best First Appearance”, dedicada aos estreantes. O filme também foi selecionado para competir na categoria de melhor uso de material de arquivo (“Competition for best use of archive material”).
Em sua primeira direção de longas-metragens, a cineasta Carol Benjamin revela a história das três gerações de sua família, atravessada pela Ditadura Militar que se instalou no Brasil entre 1964 e 1985. Seu pai, César Benjamin, foi preso ilegalmente aos 17 anos, em 1971, e permaneceu como preso político por cinco anos, ficando três anos e meio desse período em uma cela solitária. A prisão e tortura do filho mais novo transformou a dona de casa Iramaya Benjamin, avó da diretora, em uma militante incansável pela anistia. A luta e a dor de ambos sempre foram, no entanto, pouco ou nada faladas em família. Ao mergulhar em uma história pessoal e a entrelaçar com a história do país – entre passado e presente – o filme investiga a persistência desse silêncio como ferramenta de apagamento da memória.
“Este filme começou como uma jornada ao passado da minha família, mas acabou esbarrando em conflitos que se mostraram vivos no presente – tanto no âmbito familiar, quanto no político. A Lei da Anistia promulgada por Figueiredo em 1979 foi uma espécie de “pacto de silenciamento”, que nos impediu de produzir memória sobre o período dos militares no poder. Este processo é muito diferente do que ocorreu em países vizinhos como Chile e Argentina, por exemplo, que possuem ampla cinematografia dedicada ao tema. E, no meu ponto de vista, esta é uma lacuna-chave para compreendermos o que está acontecendo no Brasil hoje, quando o legado da Ditadura Militar vem sendo ressignificado”, comenta a diretora Carol Benjamin.
Para resgatar a história do pai, Carol inicia o filme em Estocolmo (Suécia), onde Benjamin ficou exiliado por dois anos após sair da prisão. É lá também que a diretora reencontra Marianne Eyre, membro da Anistia Internacional desde 1966, com quem Iramaya trocava cartas regularmente e de quem se tornou amiga e confidente. O filme, narrado pela diretora, é entremeado, sobretudo, pelas leituras dessas cartas, depoimentos de Iramaya captados em diferentes momentos, fotografias, e imagens raras de arquivo (incluindo a emocionante chegada de César à Suécia e de seu encontro com o irmão Cid, também um exilado político).
“Existia um pedaço da minha vida na Suécia, e eu fui lá buscar. No filme, eu tento articular documentos históricos e reportagens de jornal com escritos íntimos e registros de família, como um rastro precioso para um período do nosso passado que ainda não foi propriamente formulado no Brasil”.
Sinopse:
FICO TE DEVENDO UMA CARTA SOBRE O BRASIL revela três gerações de uma família atravessada pela Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Ao mergulhar em uma história pessoal e a entrelaçar com a história do país – entre passado e presente – o filme investiga a persistência do silêncio como ferramenta de apagamento da memória.
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.