Crítica | Rainhas do Crime – Entrega o que promete mas poderia ser adaptado de outra forma
9 Agosto, 2019The Kitchen (Rainhas do Crime), uma adaptação da série de oito edições da DC Vertigo, dos criadores de quadrinhos Ollie Masters e Ming Doyle e como diretora Andrea Berloff (Straight Outta Compton). Situado no final dos anos 70 em Nova York, The Kitchen é um inesperado, mas oportuno thriller de crime, explorando questões de racismo, classe e feminismo em que três mulheres assumem a gangue irlandesa local. Em janeiro de 1978, na Hell’s Kitchen, os tempos são difíceis. As coisas vão de mal a pior para Kathy Brennan (Melissa McCarthy), Ruby O’Carroll (Tiffany Haddish) e Claire Walsh (Elisabeth Moss) quando seus maridos são presos depois de cometerem um assalto em uma loja de conveniência e agredirem os oficiais de policia. Ruby e Claire não se ligam para o fato que seus maridos foram presos, mas quando o chefe da gang, Little Jackie (Myk Watford), não faz jus à sua promessa de cuidar delas enquanto seus maridos passam um tempo na prisão de Rikers, as três mulheres desenvolvem um plano que não apenas coloca dinheiro em seus bolsos e comida em seus pratos, mas também controla a Hell’s Kitchen. Quanto maior você fica, mais atenção recebe, e logo elas se encontram no radar de Alfonso Coretti (Bill Camp), o chefe da máfia italiana no Brooklyn, o agente federal Gary Silvers (Common) e de seus três maridos presos. Vai tudo ficar pior para Kathy, Ruby e Claire, elas terão que manter o que elas construíram e elas tiveram uma vida inteira de batalhas para se preparar para esta guerra.
The Kitchen pode ser uma adaptação de uma história em quadrinhos, mas este não é um filme infantil, muito menos baseado em formulas. Foram eliminadas as capas, os super poderes e os finais felizes garantidos. Além das brigas e violência habituais que acompanham os filmes policiais, há também abuso, execuções e desmembramentos, embora não sejam representados graficamente. Kathy, Ruby e Claire, foram apresentando, os homens em suas vidas e, por extensão, a gang irlandesa, que só estão interessados em reunir poder para fingir ser reis, em vez de fazer algo de útil. Essas mulheres, por outro lado, vêem o que fazem – proteção, extorsão, assassinato – como forma de proteger e melhorar a Hell’s Kitchen. A violência é uma ferramenta do kit, uma das muitas, e é usada com frequência pelas mulheres como último recurso, enquanto os homens são apresentados como sempre rápidos em escolher ele como primeiro. Esta é a área mais óbvia em que The Kitchen se separa de outros thrillers de crime e permite que a narrativa facilite um pouco da análise da dinâmica social entre mulheres e homens. Embora a igualdade de gênero não seja tão equilibrada atualmente, nos anos 70, uma mulher como chefe de uma gangue não era apenas desconhecido, mas era também considerado um absurdo. O feminismo da segunda onda pode ter começado nos anos 60 e ter começado a perder seu ímpeto no final dos anos 70, mas os efeitos das palavras de Gloria Steinem ainda circulam entre as pessoas. Em um momento não fora do personagem para o tempo ou a história, a esposa de Alfonso, Maria (Annabella Sciorra) oferece seu apoio ao que as três mulheres estão fazendo. É uma demonstração de solidariedade de outra mulher que se ver subjugada por um homem. Dito isso, esse aspecto específico da libertação das mulheres não é explorado tanto quanto é mostrado. Na verdade, esse parece ser o modus operandi de Berloff, que freqüentemente trabalha para elevar a história.
Na abertura do filme, as três mulheres são apresentadas em suas casas com seus maridos, Jimmy (Brian d’Arcy James), Rob (Jeremy Bobb) e Kevin (James Badge Dale), afim de manter o ritmo, cada casal é mostrado apenas interagindo brevemente, mas nos diz tudo o que precisamos saber sobre seus relacionamentos e sobre as próprias mulheres. Kathy em um casamento amoroso e solidário, Claire em um abusivo, e Ruby em um que é mutuamente desrespeitoso. Embora breve, isso serve de base para tudo que está por vir. Mais tarde, quando as mulheres estão começando a se mostrar, há uma sequência particularmente impressionante que é igualmente reveladora. Depois de chamar seu velho amigo Gabriel O’Malley (Domhnall Gleeson) para uma execução, todas elas se reúnem em um banheiro para que as três possam ouvir enquanto ele os orienta sobre como preparar o corpo para o descarte no Hudson. Berloff mostra apenas o que precisamos ver do cadáver, nunca mergulhando em horrores, já que a situação já é bastante macabra. Em vez disso, Berloff concentra-se principalmente nas reações das três ao processo: a saída rápida de Kathy, e Ruby lentamente a seguindo atrás, e o fascínio sem pestanejar de Claire antes de ela mesma se ajoelhar ao lado da banheira para ajudar. A atuações dessas seqüencias permitem que o telespectador avalie as jornadas internas de cada personagem, cada uma das quais são as amarras que mantêm o público emocionalmente conectado à The kitchen. Faz com que o público se importe com as escolhas delas, se importar com o que vai acontecer com elas.
A única coisa que pode impedir reações positivas do público é o tom do filme. The Kitchen parece ser um conto animado de empoderamento feminino, é isso, mas são os seus momentos mais profundos e sombrios que proliferam ao longo do filme. Alguns podem se chocar, onde em outros pode provocar aplausos, mas nenhuma cena desse filme se alinha com o tom mais acelerado dos quadrinhos. Impressionantemente, The Kitchen não se limita, adaptações precisam ter modificações, é isso que trás à grande indústria cinematografia diversidade e originalidade, em uma era repleta de adaptações. Especialmente quando se trata de abordar assuntos como classe. Parte disso vem na forma do relacionamento de Kathy com seu pai Larry (Wayne Duvall) enquanto discutem sobre as opções para imigrantes e seus filhos, mas a maior parte vem de Ruby. A melhor parte de The Kitchen é a revelação de que ela é mais do que um token, pois ela é uma das duas únicas personagens negras em uma produção quase toda branca. É difícil para as mulheres, mas não há como negar que é mais difícil para as mulheres negras. A esse respeito, Haddish rouba praticamente todas as cenas em que ela está abstendo-se de performances cômicas de alta energia que o público espera vindo de uma comediante, ela oferecer um desempenho freqüentemente e perfeitamente poderoso, mas reservada, que apresenta Ruby como uma força misteriosa.
O filme é maravilhoso, mas a historia seria algo digno de uma serie, para explorar plots que foram completamente varridos no roteiro. The Kitchen oferece o entretenimento que promete. McCarthy é fundamental no filme, demonstrando mais uma vez que, mesmo que o público ame suas comédias, seu melhor trabalho vem dos dramas, mesmo que seja sempre massacrada em criticas americanas por ser considerada uma atriz de comedias e filmes B, a indicada ao Oscar mostra cada vez mais que foi feita para o drama. Haddish é fantástica e envolvente, mas Moss é particularmente incrível. Seu desempenho como Claire é fascinante e um pouco aterrorizante. O arco de Claire é uma auto descoberta, pois ela deixa um casamento brutal e abusivo e aprende a se proteger. Emparelhá-la com Gabriel pode parecer estranho no começo (ele é claramente um sociopata), fazendo dele o professor perfeito para Claire e a arma perfeita para as três. Das coisas que podem irritar mais as audiências do que outras é a exploração aparentemente pesada e repetitiva do feminismo, mas é tão narrativamente verdadeiro para época em que a história acontece como é hoje.
A fotografia do filme é bem bonita e retrata Nova York de uma forma esteticamente perfeita do jeito que conhecemos através de outros filmes e séries. A trilha sonora é muito bem feita e casa perfeitamente com as cenas trazendo bastante melodia de jazz, soul e hip-hop.
No final, no entanto, The Kitchen é uma forte estréia na direção de Andrea Berloff, com um elenco capaz de entregar os produtos: drama, suspense e ação, ele cumpre seu papel, e apesar das falhas, é um filme poderoso.
Formada em Química, professora às vezes e pesquisadora em tempo integral. Fez curso de cinema, mas sem paciência pra cinéfilo, ama quadrinhos e odeia sair de casa.