Game of Thrones | O que esperar do final da série?
29 Abril, 2019Atenção: o texto a seguir contém spoilers dos três primeiros episódios da oitava temporada de Game of Thrones.
Após oito anos de enredadas tramas políticas, mistérios e sobrenaturais e reviravoltas dramáticas, Game of Thrones chega à sua temporada final como um dos maiores sucessos da história da televisão. Não há como negar que a série da HBO tornou-se um verdadeiro fenômeno entre o público e a crítica especializada, elevando o nível do que se espera de uma produção televisiva, seja pelos níveis de produção técnica ou pela narrativa e ambientação complexas derivadas do mundo criado por George R. R. Martin em As Crônicas de Gelo e Fogo, material de origem da série.
Quando 3.4 milhões de espectadores assistiram a cabeça de Ned Stark ser arrancada em 2011, Game of Thrones tomava para si uma obrigação quase religiosa de elevar ao máximo a experiência do público. As expectativas para a última temporada da série não são poucas e, agora que a primeira metade já foi exibida, não diminuíram nem um pouco frente aos acontecimentos até então apresentados.
Reencontros, despedidas e conflitos
A oitava temporada se inicia mais ou menos no mesmo ponto em que a sétima foi finalizada. O exército de Daenerys Targaryen chega à Winterfell junto com Jon Snow. De início, somos apresentados ao problema que vem lentamente se desenrolando desde a primeira cena da série: o exército dos mortos finalmente atravessou a muralha e marcha em direção ao Sete Reinos e, para piorar as coisas, o Rei da Norte agora monta um dragão morto-vivo.
Apesar do sentimento de urgência, o primeiro episódio se dedica sem pressa alguma no reencontro dos personagens, separados ao longo de várias temporadas. Concentrados em um único lugar após anos de distância, as dinâmicas, alianças e rivalidades antigas e novas são colocadas em questão – ora de forma sutil, ora de forma mais explícita. Vale a pena destacar aqui a atuação de John Bradley (Samwell Tarly), ao receber a notícia da execução de sua família pelas mãos da Mãe dos Dragões, unindo-se ao grupo de personagens que não parecem muito satisfeitos com a decisão de Jon Snow de submeter-se à rainha Targaryen.
Após uma breve aparição de Cersei Lannister em Porto Real, o episódio termina com a revelação de uma das teorias mais conhecidas pelos fãs da série e dos livros de Martin – a da verdadeira origem de Jon Snow. A tão aguardada notícia só chega aos ouvidos de Daenerys no final do segundo episódio, uma verdadeira montanha-russa de emoções, enquanto o público acompanha os últimos momentos de seus personagens favoritos antes da grande batalha que virá a seguir. O destaque do episódio, sem dúvidas, é a consagração de Brienne como a primeira cavaleira de Westeros pelas mãos de Jaime, rompendo tradições e costumes de uma sociedade terrivelmente patriarcal.
Por fim, o primeiro arco da última temporada se encerra com uma batalha de tirar o fôlego que eleva, mais uma vez, Game of Thrones a um novo nível no que diz respeito a produção técnica. O episódio é tenso, angustiante e até mesmo assustador em algumas partes. O destino dos personagens é definitivamente incerto e o roteiro da séries parece alternar momentos de desespero e de esperança para os fãs. Não há dúvidas que a batalha exige muito sacrifício por parte dos personagens, mas o que foi definitivamente surpreendente para o público foi o encerramento (talvez precoce?) daquele que parecia ser o grande enredo apresentado pela série com a morte do Rei da Noite em um momento para lá de heróico de uma das personagens mais queridas pelos espectadores, Arya Stark.
Valar Morghulis
“Todos os homens devem morrer”, uma das expressões mais marcantes da franquia, talvez seja exatamente aquilo que falta e que, ao mesmo tempo, marca a primeira metade da oitava temporada de Game of Thrones. Já há algumas temporadas, a série de televisão parece ter perdido um pouco a coragem de levar seus personagens principais a seu inevitável destino, a morte, característica que talvez tenha sido justamente um dos elementos do sucesso estrondoso que a produção tem apresentado ao longo de quase uma década.
A sensação incomparável de insegurança que cenas memoráveis como a execução de Ned Stark e o Casamento Vermelho causaram nos fãs parece ter se perdido, seja pela falta do material original para ser usado como base ou pela opção da produção em manter os personagens mais queridos para não desagradar os fãs. Não só em relação as mortes em si, o roteiro parece ter perdido um pouco a coragem de tomar decisões um pouco mais arriscadas, tornando Game of Thrones, em alguns momentos, um pouco menos interessante comparado aquilo que poderia ser.
Por outro lado, voltando ao ditado popular de Essos, todos os grandes homens da série não só devem, como já morreram – com pouquíssimas exceções agora, contando apenas com Jon Snow e os irmãos Lannister. Não há como negar que a última temporada de Game of Thrones está sendo, até agora, carregada pelas mulheres, quebrando barreiras há muito tempo criadas por outras produções do gênero. Aqui, as mulheres comandam reinos, são donas de dragões, lutam em guerras, fazem mágica, administram exércitos e cidades, protegem aqueles que amam e combatem seus inimigos de forma raramente – e infelizmente – pouco vista em qualquer tipo de mídia, em especial em produções de tanta popularidade.
No primeiro episódio da temporada, Tyrion Lannister faz uma observação inteligente sobre Sansa Stark. Ele diz que aqueles que a subestimaram, agora, estão mortos, enquanto ela está ali, viva. Tyrion podia estar referindo-se apenas à uma personagem específica, mas sua fala também pode ser vista em um sentido mais amplo. Em uma sociedade patriarcal e machista (aquela de dentro, mas também a de fora das telas), essas mulheres foram subestimadas por muito tempo. Mas são elas que agora dão os últimos passos de uma das franquias mais aclamadas da última década.
E agora?
Com somente mais três episódios por vir, Game of Thrones atingiu seu momento mais crucial. O grande arco que parecia ser o mais importante da narrativa, se encerrou de forma abrupta na metade da temporada. Essa decisão por si só não é necessariamente ruim – a cena, inclusive, é para lá de épica -, mas definitivamente levanta questões importantes sobre o futuro da série. O que vai acontecer agora?
Ao que parece, Game of Thrones pode estar na iminência de um perigoso anti-clímax. A grande ameaça que conduziu, ora mais ao fundo, ora mais explicitamente, os acontecimentos das últimas sete temporadas da história foi derrotada. Ameaça que, inclusive, passou as últimas duas temporadas continuamente sendo colocada acima da disputa pelo Trono de Ferro. Os heróis, em sua maioria, sobreviveram. Os exércitos que venceram os mortos-vivos de 8 mil anos de idade serão derrotados pela Cersei e seu exército definitivamente nada sobrenatural? Ou então à rainha Lannister será derrotada e Jon Snow e Daenerys Targaryen tomaram o trono no estilo novela da Globo, com direito à casamentos e nascimentos?
Por mais que as perspectivas não pareçam das melhores, a esperança do público é por um final realmente surpreendente, digno daquilo que vem sido apresentado pela série desde sua primeira temporada. Não há dúvidas que Game of Thrones superou tudo o que veio antes da televisão, mas poderá agora superar a si mesmo? Somente vendo para saber.
Se falar mal da Beyoncé o pau vai comer.