Análise | Deus ama o Homem mata-e quando o ódio vem de Deus?

Análise | Deus ama o Homem mata-e quando o ódio vem de Deus?

16 Abril, 2019 0 Por Murilo Fagundes

Escrita por Christopher Claremont, a graphic novel dos X-Men traz um dos mais chocantes enredos do universo Marvel e a forma na qual trata toda a violência e intolerância contra os mutantes e pautada de uma forma jamais vista.

A primeira pagina já diz exatamente o que vai ocorrer ao decorrer da hq, mostrando tudo que e necessário pra chocar quem esta lendo. Mas por que essa historia e tão importante principalmente nos dias de hoje? Não é novidade pra ninguém que ao decorrer da historia, a humanidade foi protagonista dos maiores caos e sempre com um ideal baseado em algo considerado um “bem maior divino” pautando frases como “os fins justificam os meios” ou ate mesmo citações bíblicas, e é exatamente sobre a relação homem e deus que se desenrola a historia.

Fazendo um paralelo com a santa inquisição, onde a igreja perseguia e exterminava tudo que ela considerava errado aos olhos Deus, temos a narrativa do quadrinho. Mas o que eu seria o errado, o diferente? A historia que foi criada sobre a mitologia mutante sempre foi a aceitação perante a sociedade que os descriminavam por apenas um acidente genético, automaticamente marginalizando-os independente de suas ações.

E usando esse artifício o vilão da vez nada mais é que um reverendo William Stryker, pautando sempre em seus discursos que deus fez o homem semelhante a sua imagem, qualquer coisa diferente disso é um desvio e deve ser exterminado.

Acredito que a maioria dos leitores tenha considerado esse tipo de fala um absurdo e que jamais alguém o seguiria certo? Errado! Mutantes causam medo e medo é um combustível pra revoltas, se escorando nisso o reverendo faz discursos insensatos mas que a maioria quer ouvir, isso é o que da a eles uma sensação de ser o certo a se fazer independente do meio, e quando o vilão usa a bíblia como referencia dando voz a quantidade de discípulo tende a aumentar. O quadrinho oscila varias vezes a alusões muito conhecidas com, por exemplo, as “cruzadas santas’’ no século, onde a igreja usava sua influencia como meio de garantir poder, na historia está presente a ‘’cruzada Stryker’’ com basicamente o mesmo ideal usar a crença como arma para o ódio e levando uma multidão a crê em seus ideais uma vez que o enxerga como o mensageiro de Deus, aquele que leva a palavra para salvar os fieis.
É comum ver na obra citações bíblicas e até mesmo alusões, como em uma pagina onde o professor Xavier e crucificado e tem seus seis alunos torturando, fazendo referência aos seis discípulo de Jesus, presente ate mesmo o famoso beijo de Judas protagonizado pela Kitty Pride.

A relação como o dialogo é trabalhado é extremamente importante até mesmo fora dos quadrinhos, a sociedade sempre marginalizou o considerado diferente e isso não e uma ideia batida, discursos de ódio sempre esteve presentes independente do período, usar figuras divinas como artifício de punição sempre foi comum, mas isso não significa que é o certo.
Talvez seja esse o ápice da historia, toda relação homem e mutante, todo julgamento e marginalização, todo discurso de ódio. Acompanhar o professor na sua jornada de convivo pacifico com os humanos ou o magneto com seus ideais de supremacia mutante são comuns em qualquer outra HQ da equipe, mas acompanhar o sofrimento da Kitty, a indignação ao ver seus amigos morrerem apenas por serem quem são é extremamente forte e comovente.

Já no final quando o Scott em seu dialogo contra o Stryker, pautando o seu ponto de vista sobre o que é ser humano, temos um dos diálogos mais fortes e bonitos de toda historia dos mutantes, onde o reverendo contesta a humanidade do Noturno levanto em consideração a sua aparência externa e temos o seguinte dialogo partindo da kitty: “noturno é generoso, bom e decente! Ele tinha todas as razoes para ser amargurado, todas as desculpas para se tornar um demônio por dentro e por fora mas, em vez disso, decidiu aprender a rir.

Eu espero ser pelo menos a metade da pessoa que ele é. E se eu tiver que escolher entre gostar do meu amigo e acreditar no seu Deus… Então eu escolho… meu amigo! Deixando bem claro de que nada vale sua crença se for baseada em ódio contra os outros!

E é nesta estética que todo enredo e construído, com uma narrativa cheia de revira voltas e deixando uma serie de reflexões no caminho, o que talvez faça você leitor mudar totalmente seu modo de pensar, deixando de lado todo julgamento baseado na diferença, creditando mais ações e não aparências!