Análise | Clichês femininos nos quadrinhos – parte 1
3 Abril, 2019 0 Por Catarina Knapki CunhaHoje vamos começar com a série sobre esteriótipos femininos na cultura pop, mais especificamente no mundo dos quadrinhos. Esteriótipos são noções preconcebidas que visam limitar a complexidade de uma pessoa, lugar ou coisa. A cultura pop está cheia desses esteriótipos se tratando de personagens, principalmente de personagens femininas.Se esses estereótipos já são aceitos pela maioria, pra que criar uma personagem feminina complexa e dona de sua própria história? Todos os esteriótipos ou clichês são muito problemáticos e afetam a vida de muitas pessoas que consomem e produzem cultura pop. O clichê de hoje será “Women In Refrigerators” (mulheres na geladeira) .
Exemplos de personagens que foram colocadas na “geladeira”. Elektra, Gwen Stacy e Barbara Gordon!
O nome “Women in Refrigerators -WIR” foi criado por Gail Simone, roteirista de hqs Norte-americana, em 1999 para um blog que tinha a finalidade de listar todas as personagens femininas que já haviam sido mortas, abusadas ou enfraquecidas para engrandecer personagens masculinos. Após ler Lanterna Verde #54 de 1994 a escritora decidiu criar o Blog e abrir a discussão sobre como as personagens femininas são representadas nas hqs. Em Lanterna Verde #54, Kyle Rayner encontra Alexandra DiWitt,sua namorada, morta em uma geladeira, Major Force, o vilão da história, estrangula a moça até a morte. Gail percebeu que muitas outras personagens tinham sua vida brutalmente interrompida para que seus companheiros tivessem um desenvolvimento melhor.
Imagem de reprodução: Google
Gwen Stacy, Big Barda, Elektra,Barbara Gordon, Stephanie Brown, Caçadora, Maria Castle, Jean Grey, Jean DeWolff, Karen Page e Psylocke são apenas alguns dos exemplos de personagens femininas que se encaixam no esteriótipo WIR. As personagens não precisam morrer necessariamente, outros fatores podem acontecer para q elas entrem no na lista de Mulheres na Geladeira. Barbada Gordon foi aleijada e estuprada por Coringa, isso marcou a jovem pra sempre. Enquanto Batman também foi aleijado, dessa vez por Bane, e voltou a andar rapidamente. É como se a vida de uma personagem feminina fosse menos importante e pudesse ser usada como “desculpa” para o personagem masculino entrar em fúria. O desenvolvimento das personagens femininas tem um custo muito alto e problemático não acham? Olha que eu estou supondo que há algum tipo de desenvolvimento, na maioria das vezes elas são usadas apenas como combustível para os arcos dos heróis, ou são totalmente deixadas de escanteio, as histórias de suas mortes não se propõe em discutir feminicídio entre outros problemas, as narrativas só banalizam algo tão doloroso e trágico.
Estamos falando de feminicídio, um dos grandes males da sociedade brasileira. Qual é a relação entre quadrinhos e feminicídio, oras? Fácil! As mulheres nas hqs sempre são tratadas com violência; imagina como fica a cabeça de um jovem menino que constantemente vê tal tratamento e vai internalizando que é normal tratar as mulheres assim? Ou de uma jovem menina que precisa parar de ler, ou continuar se vendo tratada de uma maneira cruel? Os quadrinhos afetam seus leitores, e representar as mulheres e outras minorias de forma problemática só ajuda a piorar a situação! Você se lembra de alguma personagem feminina que já morreu, ou sofreu violência física e/ou psicológica para engrandecer o arco de um personagem masculino ? Ou de uma personagem que teve de sofrer tais mazelas para supostamente desenvolver seu arco? Tenho certeza que você poderia nos citar umas 5 no mínimo. Conta aqui pra gente, não se esqueça de compartilhar o post com seu amigos. Até a próxima!
17 anos, quer escrever quadrinhos. Enquanto não realiza seu sonho, lê e escreve sobre o assunto – agora, seu objetivo é descansar e ler a pilha de quadrinhos acumulada desde as férias passadas.
Sobre o autor
17 anos, quer escrever quadrinhos. Enquanto não realiza seu sonho, lê e escreve sobre o assunto - agora, seu objetivo é descansar e ler a pilha de quadrinhos acumulada desde as férias passadas.