Debaixo da Capa | Peter Parker: A tragicidade por trás da máscara
24 Setembro, 2018
Nome social: Peter Parker
Heroi: Homem-Aranha
Primeira aparição: Amazing Fantasy (1962)
Editora: Marvel Comics
Habilidades: Geração de teias, sentido sobre-humanos, sentido-aranha, força, velocidade, agilidade, durabilidade e resistência.
O Homem-Aranha foi criado por Stan Lee e Steve Ditko e teve sua primeira aparição em Amazing Fantasy #15 (Agosto de 1962). Foi apresentado como um adolescente órfão, tímido e estudioso, criado pelos seus tios e que, eventualmente, foi picado por uma aranha radioativa, tornando-se um super herói. Fantasioso demais? Sim, mas embora tenham se passado décadas desde a sua criação, poucos elementos foram mudados em relação a sua origem, alguns conceitos foram adicionados paralelamente em arcos fechados, como a tese mística por trás da aranha em Homem-Aranha De Volta ao Lar, mas a essência de Peter Parker sempre se manteve intacta: um adolescente aprende que com grandes poderes vem grandes responsabilidades. E é sobre isso que iremos abordar.
Embora a DC e a própria Marvel já tivessem introduzido outros heróis adolescentes como o Robin e o Bucky Barnes (que mais tarde se tornaria o Soldado Invernal), o Homem-Aranha foi o primeiro herói adolescente entre as duas editoras a não ser rebaixado como um personagem secundário no título de outro herói, isso por que a intenção era justamente a de chamar a atenção dos jovens leitores e que despertasse o interesse deles em se ver por trás da máscara do Homem-Aranha, Peter Parker tinha que ser a imagem do leitor dentro do universo Marvel, e para isso o personagem foi construído em cima de diversos elementos que o tornavam mais real e identificável. Então surge Peter Parker, um estudante do ensino médio, órfão, que cresceu na casa do seu tio Ben e sua tia May, era frequentemente alvo de piadas na escola e que não era bom em nada além dos estudos, embora tivesse um bom coração. Peter tinha dificuldades em socializar e isso afetava negativamente as suas experiências. Em um fatídico dia, Peter é picado por uma aranha radiativa, que mais tarde ele iria descobrir que lhe garantiu habilidades extraordinárias. Não iremos crucificar o pobre Peter por inicialmente usar os seus novos poderes para beneficio próprio, como tentar ganhar dinheiro e que deixaria marcado para sempre em sua memória a trágica morte de seu tio, a qual ele poderia ter impedido indiretamente.
Ainda como estudante, Peter se tornou amigo de Harry Osborn, se incluiu em um circulo social onde se apaixonou pela jovem Gwen Stacy, filha do capitão de polícia, George Stacy, e gradativamente foram se aproximando. Já com um relacionamento muito bem estabelecido nos quadrinhos, o casal caiu na graça dos leitores e se consolidou. Embora a Mary Jane seja inegavelmente o seu romance mais popular (muito devido aos filmes do Sam Raimi), Gwen Stacy sempre foi, indiscutivelmente, o primeiro e grande amor da vida de Peter, e por muito tempo se manteve assim, um relacionamento entre um garoto humilde que trabalhava para ajudar a sua tia, com uma jovem de classe alta, inteligente e que servia de refúgio para ele. Peter Parker era um herói adolescente que não se distanciava tanto de certas abordagens que outros grandes heróis como o Superman enfrentam até hoje, como a dualidade da identidade civil e o lado do herói, que ocasionam em conflitos internos em sua vida, e quando eventualmente o capitão Stacy foi morto durante uma batalha entre o Homem-Aranha contra o Lagarto, Gwen o culpou pela tragédia, embora não soubesse que Peter estava por trás da máscara. Isso alargou ainda mais a lacuna que havia na dualidade entre Peter e o Homem-Aranha, ainda que este não pudesse se afastar de Gwen, já que ele havia prometido para o capitão Stacy que iria cuidar dela, e acima de tudo, ele a amava. Ambos se afastaram por um certo tempo, Gwen foi para a Inglaterra mas voltou logo depois, dando continuidade ao romance que, mais tarde, seria interrompido por esta que é uma das histórias mais populares do personagem: The Amazing Spider-Man #121-122 (A Noite em que Gwen Stacy Morreu).
Pelo título você pode entender o motivo de esta história ser tão memorável no histórico do Homem-Aranha. Nela, vemos Gwen Stacy ser raptada pelo Duende Verde em seu planador, sendo levada inconsciente para o alto da torre de uma ponte, da qual é arremessada. Peter consegue segurá-la a tempo com sua teia, mas ao se aproximar dela, já estava morta. Por muito tempo os leitores se perguntaram se ela havia morrido durante a queda ou se já estava morta desde o princípio, o que não faria diferença. O Homem-Aranha não conseguiu salvar Gwen Stacy. Peter Parker não conseguiu salvar o amor de sua vida. Logo depois o Duende Verde morreria empalado pelo seu próprio planador, fazendo com que Harry Osborn, melhor amigo de Peter e filho de Norman Osborn, o Duende Verde, que estava em estado de depressão e uso abusivo de drogas pesadas que o levaram a overdoses, a culpar o Homem-Aranha pela morte de seu pai. Posteriormente, Harry descobre que Peter é o Homem-Aranha e se torna o novo Duende Verde. Mas a conturbada vida de Peter Parker não o levou somente a perdas, ele teve boas conquistas em sua vida comum, embora nunca tenha esquecido Gwen, Peter nutriu um romance com Mary Jane entre a perda e a restauração do otimismo, voltando a ser o tradicional “Amigão da Vizinhança”, mas como de costume, tudo o que é bom na vida de um herói raramente dura muito. O relacionamento entre Peter e Mary Jane se mostrou uma grande provação. Diversas vezes Mary Jane foi sequestrada e até mesmo dada como morta, evento que a levou a se separar de Peter, embora o amasse, o fazendo cair novamente em estado de melancolia. Mesmo que pudesse sempre contar com a Tia May, que chegou a descobrir que ele é o Homem-Aranha, ele sempre dependeu de um porto seguro ainda maior em sua vida conturbada, e com quem quer que ele estivesse, seja com Gwen Stacy, Mary Jane ou até mesmo Felicia Hardy, a Gata Negra, Peter sempre se manteve evoluindo como personagem, indo de um adolescente antissocial, um vigilante perseguido pela polícia que ainda tinha muito o que provar, hospedeiro de um traje alienígena, arqui-inimigo do seu melhor amigo (e seu pai), para o maior herói da Marvel.
Após um bom tempo com o casal estabelecido (agora reatados), Peter e Mary Jane se casam e constroem um relacionamento de confidencia, na qual muitos inicialmente não iriam acreditar que a vizinha ao lado que tocou a sua campainha, viria a se tornar uma presença tão importante em sua vida. Gwen foi o primeiro amor de Peter, mas Mary Jane foi a amiga que Peter precisou no momento certo para fazê-lo acreditar em si mesmo novamente e poder amar outra vez. Durante a minissérie “Guerra Civil”, Peter revelou sua identidade publicamente e Tia May morreu. Como última alternativa, Peter fez um pacto com Mephisto para salvar a sua tia e restaurar sua identidade secreta novamente, em troca de seu casamento com Mary Jane. De lá até aqui eles reataram algumas vezes e diversos relacionamentos de Peter, incluindo Gwen Stacy, foram abordados de forma emblemática para dar uma nuance maior no lado emocional de Peter, que por um certo tempo estava se desgastando em meio a histórias de pouca criatividade (Se você se interessa por este lado do personagem, é extremamente aconselhável que leia Homem-Aranha: Azul).
O Homem-Aranha foi criado, desde a sua fisionomia, personalidade e situação financeira, para que o jovem leitor se identificasse com ele e se imaginasse por trás da máscara, e hoje em dia com os grandes filmes de herói como a atual moda de Hollywood, nos imaginamos e nos afeiçoamos a quem quisermos, mas fica o questionamento: Você conseguiria suportar a trágica vida de um super herói? A esta altura, você ainda está se lembrando de que com grandes poderes vem grandes responsabilidades?
Formada em Química, professora às vezes e pesquisadora em tempo integral. Fez curso de cinema, mas sem paciência pra cinéfilo, ama quadrinhos e odeia sair de casa.